No Ceará, somente ano passado, 26 acidentes
levaram as vítimas à morte; falta de fiscalização das redes elétricas
aumenta ocorrências
08:43
·
10.12.2017
/ atualizado às 10:39
por Theyse Viana
A força do choque foi tão intensa que a porta da geladeira acabou
sacada do lugar quando a aposentada Terani Bastos, 64, chegou da praia
“de pé descalço” e tentou abrir o eletrodoméstico. “Tomei um choque tão
forte, daqueles que jogam a gente pra fora, que a porta veio junto e
caiu em cima de mim”, relata, considerando “um milagre não ter morrido”.
A sorte, porém, não é de todos: no Ceará, 147 acidentes elétricos foram
registrados entre 2013 e 2016, dos quais 129 resultaram na morte das vítimas,
de acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica,
divulgado pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos
da Eletricidade (Abracopel).
Somente no ano passado, 26 acidentes ligados à
eletricidade, entre choques, incêndios por curto circuito e descargas
atmosféricas, levaram as vítimas à morte no Estado, segundo apontou o
levantamento da Abracopel. Os dados mostraram ainda que o Nordeste é
líder isolado em acidentes elacionados a falhas na rede elétrica: das
2.408 mortes contabilizadas nas cinco regiões do País apenas por
choques, de 2013 a 2016, 1.054 foram em estados nordestinos, o que
corresponde a cerca de 44% dos óbitos em todo o Brasil.
De acordo com o especialista em eficiência elétrica da Enel Distribuição, Marcony Melo, a maior parte das ocorrências atinge as residências
– principalmente as de baixa renda –, tendo como causas mais comuns o
uso prolongado de equipamentos elétricos e a sobrecarga da rede. “O
maior problema é a falta de informação, de atenção com as instalações.
Normalmente, os acidentes são originados pelo superaquecimento de
aparelhos como ventilador, ar-condicionado e carregadores de celular,
além do uso exagerado dos 'Ts' (multiplicadores de tomadas) e de
extensões com falha de isolamento”, esclarece Melo, ressaltando ainda
que as ligações clandestinas, mais conhecidas como “gambiarras” ou
“gatos”, além de se configurarem como crime, aumentam o risco de
acidentes.
Incêndios
Outro problema comum ocasionado por falhas ou danos nas instalações
elétricas são os curto-circuitos, que provocam a passagem de carga em
excesso, podendo gerar um transtorno ainda maior: os incêndios. No
Brasil, 1.384 incêndios após curto-circuitos foram contabilizados entre
2013 e 2016, 346 no Nordeste e 18 no território cearense.
Fiscalização
As redes elétricas instaladas em residências, comércios, prédios
públicos e áreas externas cobertas ou descobertas devem seguir as
orientações previstas na Norma Brasileira 5410, estabelecida em 2004
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além da NBR, a
certificação das redes é guiada
também pelos Requisitos de Avaliação da Conformidade para Instalações
Elétricas de Baixa Tensão, previstos na Portaria 51 do Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), publicada em
2014 pelo então Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior. A certificação, no entanto, ainda é voluntária.
Um dos resultados mais simples, porém alarmantes, dessa falta de regulamentação é que apenas 21% dos domicílios
incluídos na pesquisa da Abracopel utilizam o chamado dispositivo
Diferencial Residual (DR), que atua para garantir segurança ao usuário
quando houver possibilidade de choque elétrico em tomadas.
Segundo estima Marcony Melo, o percentual deve “despencar” se forem
consideradas as áreas de baixa renda, chegando a, no máximo, 3%. “O
grande problema é que não existe fiscalização, embora as normas exijam
padrões. A nova lei de inspeção predial em condomínios pode ser um
começo desse trabalho, mas não abarca as residências, locais onde há
maiores índices de acidentes”, aponta Melo.
Fonte: diário do nordeste
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