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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Em operação desde novembro, ônibus turístico transporta 350 passageiros por mês em Fortaleza



Segundo Lucas Benzola, chefe diretor, um dos objetivos do Fortaleza Bus é fazer com que o turista permaneça mais tempo na Capital, desfrutando de seus outros atrativos, além do turismo de sol e praia


O coletivo passa por 12 pontos culturais de Fortaleza, num percurso de aproximadamente 30 quilômetros
Com oito meses de atuação na Capital cearense, o ônibus de turismo Fortaleza Bus recebeu, em média, 350 usuários a cada 30 dias neste período. Em julho, a quantidade de visitantes que vieram à cidade impulsionaram ainda mais a ocupação, que cresceu 20%, segundo informou Lucas Benzola, chefe diretor da empresa. 
Em seu roteiro, o coletivo passa por 12 pontos culturais de Fortaleza, num percurso de aproximadamente 30 quilômetros. O serviço possui duas modalidades de ticket, que permitem viagens por qualquer parte do percurso nos períodos de 24 horas e 48 horas. Já os valores variam de acordo com a idade do passageiro.  O ticket de 24 horas custa R$50 para adultos e R$ 45 para crianças e idosos, e de 48 horas custa R$70 para adultos e R$65 para crianças e idosos. 
Para Benzola, um dos objetivos do Fortaleza Bus é fazer com que o turista permaneça mais tempo na Capital, desfrutando de seus outros atrativos, além do turismo de sol e praia. 
Outras praças 
Este mesmo modelo de negócio, existe em Salvador desde 2008, e segundo Benzola, as maiores diferenças entre as duas capitais estão no roteiro histórico.
“Em Salvador a gente tem um roteiro histórico com mais conteúdo. Já em Fortaleza, o que sobressai é o turismo de sol e praia. Grande parte dos visitantes que chegam em Fortaleza estão indo para as praias próximas, Jericoacoara, Cumbuco. São duas Capitas que estão no Nordeste do nosso país, são duas capitais litorâneas, cada uma com suas peculiaridades, mas são duas cidades que sempre estão dentro dos planos de interesse dos turistas”, comenta. 
Nos três primeiros meses do ano, com o período de alta estação, o serviço chega a receber em média 3.000 usuários por mês, já em períodos como o de julho, a média é de 1.000 pessoas por mês. Em relação aos valores, na capital baiana há apenas a modalidade de 24 hrs, o ticket adulto custa R$70 e para crianças e idosos R$55
Perspectivas 
Mesmo ainda sendo um modelo de negócios pioneiro na Capital, o diretor do coletivo mantém expectativas positivas para o futuro.
“Em Salvador nós já temos esse produto consolidado. Em Fortaleza, a gente acredita no potencial e vocação que a cidade tem em seus atrativos turísticos”, destaca. 
Benzola também comenta que sobre a expansão dos investimentos feitos em relação ao turismo na cidade ao longo dos anos. “A cidade de Fortaleza vem nos últimos anos investindo em infraestrutura, em promoção. A gente vê que em Fortaleza há o melhor centro de convenções. O aeroporto também vem passando por uma reforma bastante interessante. O número de voos de hubs que Fortaleza começou a captar, a própria posição geográfica de Fortaleza também favorece por estar próximo ao continente europeu”, comenta. 
Rotas 
O itinerário do ônibus percorre desde pontos de cunho histórico até centro comerciais, como shoppings. Benzola afirma que algumas organizações privadas estão buscando se inserir dentro do roteiro do Fortaleza Bus. 
Itinerário
  • Dragão do Mar
  • Espigão Rui Barbosa
  • Feirinha da Beira Mar
  • Mercado dos Peixes
  • Praia do futuro
  • RioMar Fortaleza
  • Parque do Cocó
  • Av. Dom Luís
  • Praça Portugal
  • Estoril
  • Mercado Central
Fonte: Diário do Nordeste

Ato na ABI reforça defesa da liberdade de expressão e democracia

O ato em solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na região central do Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (30), foi uma demonstração de força do campo progressista em defesa da democracia e não apenas em defesa do jornalismo e da liberdade de imprensa. Cerca de 3 mil pessoas se aglomeraram na sede da ABI – mil delas no auditório e 2 mil no saguão e do lado de fora.

Divulgação
 Chico Buarque diz que houve armação na eleição de Bolsonaro Chico Buarque diz que houve armação na eleição de Bolsonaro
O trabalho de Greenwald, com os vazamentos dos diálogos entre o ministro e ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, foi exaltado por estar revelando como a elite brasileira opera contra o interesse dos trabalhadores e das minorias. No sábado, o presidente Jair Bolsonaro disse que Glenn “talvez pegue uma cana aqui no Brasil”, em um ataque não só ao jornalista, como também à liberdade de imprensa. E esse foi o combustível do ato. A Constituição do país assegura o sigilo da fonte, e não há crime na atuação de Glenn ao divulgar informação de interesse público.

No ato, também foi prestada solidariedade ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, atacado pelo presidente Bolsonaro. Felipe teve a memória de seu pai, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desrespeitada por Bolsonaro, que afirmou que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto pra ele”. Fernando Santa Cruz é desaparecido político da ditadura civil-militar, desde 1974. Foi preso por agentes do DOI-Codi, no Rio de Janeiro, em fevereiro daquele ano.

O cantor e compositor Chico Buarque afirmou durante o ato que há uma enxurrada de barbaridades na Operação Lava Jato e que as revelações do Intercept são tão importantes, “porque fica explícito, para quem quiser ver, o quanto se tramou para eleger esse governo”. “Mostram o que se armou por debaixo dos panos pelos grandes lobbies de comunicação. E fizeram isso exaltando o então juiz Sérgio Moro como um herói que chegou a ser eleito o homem do ano, o homem que faz a diferença, mas nós vimos que tipo de diferença ele andou fazendo nas sombras”, disse ainda. Chico prestou solidariedade aos jornalistas e, em especial, a Greenwald pelas ameaças que vêm sofrendo do governo Bolsonaro.

Sem zona de conforto

A cantora Teresa Cristina disse que “o que está acontecendo no país é muito pesado e o astral está lá embaixo”. Mas lembrou que há muitas pessoas insatisfeitas e não dá para ficar em casa. “A zona de conforto acabou. O que está acontecendo no Brasil é para a gente estar na rua. Não dá para ser mulher, preto, morador de comunidade e achar que está tudo normal.”

O representante da OAB Pierpaolo Cruz Bottini afirmou que o que o Glenn fez foi um ato de coragem. “Ele foi atacado pelo Estado, que na pessoa do presidente disse que ele é uma pessoa criminosa”. Bottini defendeu que o país deve deixar que a imprensa cumpra o seu papel e possa divulgar as informações. Alertou que o país está assistindo sim a uma escalada do autoritarismo. “O Glenn defende o estado de direito”, afirmou, “e a OAB tem a postura de subir em todas as tribunas para defender o estado de direito”.

As atrizes Camila Pitanga e Júlia Lemmertz também estavam no ato. A Associação Juízes para a Democracia estava representada por João Batista Damasceno. A representante da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Beth Costa disse que não vai haver democracia no Brasil “enquanto não houver democracia na comunicação”. Ela destacou também que Glenn escreveu seu nome na história do país e que o ato na ABI representa também o momento histórico na luta em defesa do estado de direito.

Representando o comitê de juristas pela liberdade de expressão, a juíza Kenarik Boujikian Felippe disse que o espírito do comitê é reunir pessoas que defendem o estado democrático de direito, a Constituição e a liberdade de expressão. “Por esta energia aqui posso confirmar com clareza no meu coração que somos vitoriosos; a liberdade de expressão é uma vitória”. Ela disse também que o país precisa de um novo tempo em que se respeite a Constituição.

O ator e diretor Wagner Moura defendeu que o momento é de solidariedade com Greenwald, mas que qualquer um neste momento que dignifique o que faz, como o jornalista, é importante. Ele defendeu solidariedade com todos os jornalistas de verdade, compromissados com o fato, com a justiça social. “O jornalismo é um pilar fundamental da democracia”, acrescentou, também prestando solidariedade aos indígenas e à memória das pessoas que foram vítimas da ditadura.


Fonte: Rede Brasil Atual

    Consórcio dos Estados do Nordeste cria versão local do Mais Médicos

    Os governadores do Nordeste provam mais uma vez o seu compromisso com o povo e resistência frente aos retrocessos do governo de Jair Bolsonaro (PSL). O expoente mais recente disso é a criação de uma versão local do programa Mais Médicos, aprovada nesta segunda-feira (29) pelo Consórcio Nordeste. A iniciativa reúne os nove governantes da região sento quatro do Partido dos Trabalhadores.

    Araquém Alcântara
      
    O objetivo do programa é suprir a demanda por atendimento que se criou com a saída dos médicos cubanos. Os profissionais começaram a deixar o Brasil em novembro de 2018, pois, com a eleição de Bolsonaro, que sempre criticou o Mais Médicos, o governo cubano decidiu romper a parceria. A quebra do acordo resultou no fim do programa que atendia 63 milhões de brasileiros.

    Nesse sentido, a iniciativa do Consórcio surge como uma forma de conter os estragos do Governo Federal, que prejudica principalmente o povo mais pobre do país. O programa prevê ampliação do atendimento e parcerias com as universidades estaduais.

    A ideia é que as instituições de ensino completem a grade de disciplinas para validar os diplomas de brasileiros que cursaram medicina fora do país. De acordo com a Folha de S. Paulo, esse número é de 19 mil graduados. Em contrapartida, esses profissionais que revalidarem do diploma devem atuar nas regiões mais desassistidas do Nordeste.

    O Consórcio Nordeste é chefiado pelo governador da Bahia, o petista Rui Costa, e conta ainda com outros três governadores do PT: Camilo Santana (CE), Fátima Bezerra (RN) e Wellington Dias (PI). Também participam os governadores Flávio Dino (PCdoB-MA), João Azevedo (PSB-PB), Paulo Câmara (PSB-PE), Belivaldo Chagas (PSD-SE) e Renan Filho (MDB-AL). O grupo tem como superintendente o ex-ministro Carlos Gabas (governos Lula e Dilma).

    Sobre a iniciativa, Rui Costa afirma: “não podemos deixar o povo esperando a chegada de médicos que, até o momento, não sabemos quando irá ocorrer”. A fala é uma referência a um programa que o governo Bolsonaro anunciou para tentar substituir o Mais Médicos, mas que ainda não saiu do papel ou tem qualquer detalhamento sobre como seria implementado.

    Costa reitera que os governadores do Nordeste tomaram a dianteira nessa pauta porque a falta de respostas “provoca sofrimento às pessoas que precisam de atendimento”.


    Fonte: Agência PT com informações do UOL

      Margaridas marcham em defesa da democracia, da vida e da igualdade

      Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, a 6ª Marcha das Margaridas pretende florir Brasília nos dias 13 e 14 de agosto para “anunciar ao Brasil e ao mundo o modelo de sociedade que defendemos”, diz Mazé Morais, secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e coordenadora do evento.


      Por Marcos Aurélio Ruy*

        
      “Lutamos por uma sociedade baseada no respeito à dignidade das pessoas, sem discriminação, com oportunidades iguais perante a vida”, complementa a sindicalista do Piauí. “Queremos a valorização da produção de alimentos saudáveis com mais investimentos na agricultura familiar”.

      Responsável por cerca de 70% da produção de alimentos, a agricultura familiar vem sofrendo cortes desde a deposição da presidenta Dilma Rousseff em 2016. A agricultura familiar tinha uma verba de R$ 7 bilhões, em 2018. Neste ano sofreu redução para R$ 5,8 bilhões.

      “Fica difícil mantermos a produção nos mesmos patamares sem investimentos”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e secretária-geral da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Bahia (Fetag-BA).

      Vânia explica que o mundo do trabalho é machista e racista. “Tanto na cidade quanto no campo as mulheres são discriminadas”, diz. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres dedicaram 21,3 horas por semana com afazeres domésticos, em média por semana no ano de 2018, praticamente o dobro do que os homens gastaram com as mesmas tarefas – 10,9 horas. 

      A sindicalista baiana argumenta que “as trabalhadoras enfrentam dificuldades na divisão das tarefas domésticas, no meio rural com o acréscimo de que cuidamos das hortas e criação de animais pequenos, vistas como atividades domésticas como cuidar da casa e dos filhos”. 

      O argumento dela é que “as tarefas domésticas não têm remuneração, são vistas como menos importantes e muitas vezes negam às mulheres o direito de participar das decisões sobre a administração das coisas e sobre a comercialização dos produtos”.

      Mazé concorda. Por isso, diz ela, “as Margaridas marcham por direto à terra, ao acesso à água, por mais saúde e educação e em defesa de uma agricultura sustentável, sem agrotóxicos e sem prejudicar o meio ambiente”.

      De acordo com ela, “marchamos em 2019 contra essa deforma da previdência, pela revogação da reforma trabalhista, pela democracia, em defesa da verdade e contra todos os tipos de violência contra as mulheres”. 


      Violência

      Somente em 2018, foram registrados 4.254 assassinatos de mulheres no Brasil, segundo levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1.173 registrados como feminicídio, mais de três por dia.

      Vânia conta que no meio rural, “as mulheres ficam mais vulneráveis por causa do distanciamento dos grandes centros e da falta de presença do Estado para a nossa proteção, além da dificuldade de acesso”.

      Ela questiona o abandono da Patrulha Maria da Penha Rural e Mazé acentua a necessidade de “políticas públicas de atendimento e proteção das mulheres e meninas contra todo o tipo de exploração e abuso e também para conter o alto número de feminicídios no país”.

      Vânia reforça que essas políticas públicas devem atender a todas no meio urbano e rural “para o Brasil sair do vergonhoso ranking de quinto país mais violento contra as mulheres”.

      Já para Sabrina Barros da Silva, secretária da Mulher da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Rio de Janeiro (Fetagri-RJ), AS Margaridas de todo o Brasil prometem lotar as ruas de Brasília para “lutar por democracia com igualdade, justiça para todas e todos além de autonomia econômica para as mulheres”. 

      A sindicalista carioca defende ainda o direito a “uma vida livre de todas as formas de violência, sem racismo, sem sexismo, por saúde pública, e por uma educação não sexista e antirracista e direitos com uma educação de qualidade no campo e na cidade”.

      Mazé denuncia o abandono de políticas públicas importantes para manter uma alimentação saudável na mesa das brasileiras e brasileiros e a degradação do trabalho no campo sem essas políticas.

      Para ela, o favorecimento ao agronegócio que não tem compromisso com uma produção sem prejuízos para o meio ambiente causa prejuízo à “soberania alimentar, levando ao empobrecimento e padronização das práticas alimentares e à disseminação de conflitos territoriais”. 

      As sindicalistas questionam a liberação indiscriminada de defensivos agrícolas com utilização proibidas na maioria dos países desenvolvidos. “Com a liberação de tantos agrotóxicos a população mais carente vai se envenenar pela falta de condição de comprar o alimento limpo enquanto a classe privilegiada não se incomoda com essa liberação, porque eles têm situação financeira para adquirir produtos de qualidade”, lamenta Sabrina.

      “A 6ª Marcha das Margaridas ganha mais importância política ainda por causa do momento difícil de retrocessos e de ofensiva aos contra os direitos das mulheres, dos negros, dos LGBTs, dos povos indígenas e da juventude”, finaliza Mazé. “Resistir é o nosso lema para vencermos o ódio e a violência”, conclui Vânia.

        Randolfe Rodrigues: Conflito e morte nas aldeias wajãpis

        O covarde assassinato do cacique Emyra Wajãpi na semana passada é um incidente extremamente grave e traz à tona aspectos muito mais complexos do que a pretensa versão oficial. Os wajãpis estão entre os primeiros habitantes do Amapá e da Guiana Francesa. Descendentes da etnia guaiapi, falam um idioma originado do tupi, são oriundos da região do rio Xingu, de onde saíram por volta do século 18, e se estabeleceram no local onde estão atualmente. 


        Por Randolfe Rodrigues*

        Assassinato do cacique Emyra revive tempos sombrios. A autoria do crime foi atribuída a um grupo armado que invadiu a terra indígenaAssassinato do cacique Emyra revive tempos sombrios. A autoria do crime foi atribuída a um grupo armado que invadiu a terra indígena
        Há aproximadamente mil índios vivendo em 49 aldeias espalhadas em uma área de 607 mil hectares, demarcada em 1996. Vivem de caça, pesca, extrativismo e pequenas plantações e se mudam constantemente para permitir a recuperação ambiental dos espaços ocupados. Viviam completamente isolados. Foram contatados pela primeira vez somente na década de 1970. 

        Desde então, garimpeiros adentraram essas terras para exploração de ouro e, mesmo com o povo wajãpi tendo sido amistoso, a experiência foi trágica, com disseminação de doenças (como o sarampo), conflitos e mortes. Com a presença mínima do Estado e a recém-aberta rodovia Perimetral Norte (BR-210), os confrontos prosseguiram pela década seguinte. Entre 1985 e 1992, relata a antropóloga Dominique Gallois, os índios capturavam muitas vezes garimpeiros ilegais, os aprisionavam e os entregavam para a Polícia Federal. Após a homologação de suas terras, os conflitos diminuíram sensivelmente. 

        O assassinato do cacique Emyra revive aqueles tempos sombrios. No último sábado (27), recebi mensagens do vereador Jawarawa Wajãpi denunciando o crime, atribuindo a autoria a um grupo armado que invadiu a terra indígena e pedindo socorro. Comunicamos imediatamente ao Ministério Público, à Polícia Federal e ao governo do estado, entre outras instituições que se deslocaram para o local.

        A partir daí observa-se uma clara tentativa de minimizar a importância ou até acobertar o grave incidente. Jair Bolsonaro afirmou que “não há indícios de que esse índio foi assassinado” (estaria o presidente supondo suicídio?), ao mesmo tempo em que voltou a defender o garimpo em terras indígenas. Outra versão açodada é a de que não haveria vestígios de presença estranha na área, fato que teria sido constatado por um suposto sobrevoo de drone. Ressalte-se que tal equipamento não foi usado na operação conforme relatado na entrevista coletiva no Ministério Público Federal do Amapá, na segunda (29). Na ocasião, não se soube informar detalhes tais como quantas aldeias foram visitadas e qual área foi vistoriada.

        No entanto, o Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina), em duas notas, reafirmou a denúncia da entrada de invasores e relatou o temor da população por causa do fato. Ao mesmo tempo, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestaram preocupação com o incidente e irão notificar o governo federal. 

        Enquanto concluo este artigo, estou me dirigindo para a Aldeia Aramirã para me reunir com os wajãpis e avaliar a situação. Não nos resta dúvida de que o caso é dramático e não pode ser tratado de forma irresponsável, como parece estar sendo pelo governo federal.

        Por fim, não há como dissociar esse terrível episódio dos posicionamentos públicos nos quais Bolsonaro defende abertamente a exploração ilegal de recursos minerais em terras indígenas, mesmo com todas cicatrizes expostas causadas por essa terrível experiência vivenciada pelos wajãpis e por outras etnias. Como o incentivo do presidente da República a essa prática, temo pela proliferação de crimes como o ocorrido na semana passada.

        Os povos originários do Brasil merecem e exigem respeito!

        Randolfe Rodrigues, senador da República (Rede-AP) e líder da oposição no Senado, é historiador e mestre em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará


        Folha de S.Paulo

          Dilma: Gestão Bolsonaro incomoda até centrão e direita mais civilizada

          “Este é um governo neoliberal e neofascista. Essa visão incomoda o centrão, a direita mais civilizada, a centro-direita. Eles achavam que iriam tutelar o Bolsonaro, que iriam conseguir fazer com que se civilizasse um pouco. E não os constrangesse com as manifestações toscas, não civilizadas, grosseiras que ele faz sistematicamente.” A avaliação é de Dilma Rousseff (PT), em entrevista a Leonardo Sakamoto (UOL).

          A ex-presidenta Dilma, em evento do PCdoB, ao lado de Flávio Dino, Luciana Santos e Renato Rabelo A ex-presidenta Dilma, em evento do PCdoB, ao lado de Flávio Dino, Luciana Santos e Renato Rabelo 
          Presidente da República entre 2011 e 2016, Dilma teve seu mandato cassado pelo Congresso Nacional em um golpe de Estado, de natureza jurídico-parlamentar-midiática. Três anos depois de ser deposta, ela analisa que, como Bolsonaro é útil para a realização de “reformas neoliberais” nos próximos anos, conseguirá – em troca – manter “uma política de desprezo por direitos sociais, humanos e trabalhistas e pelo meio ambiente no país”.

          Nascida em 1947, em Belo Horizonte, Dilma participou de organizações de resistência contra a ditadura militar, tendo sido torturada e presa. Foi secretária de Finanças de Porto Alegre, secretária de Minas, Energia e Comunicações do Rio Grande do Sul, ministra das Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula. Candidatou-se ao Senado Federal por Minas Gerais no ano passado, mas perdeu a eleição em meio à onda conservadora e antipetista.

          Na entrevista, diz que, se tivesse continuado no poder, teria feito uma reforma da Previdência – mas diferente daquela proposta por Jair Bolsonaro. Explica que não pretende se candidatar em 2020 ou 2022 e que tanto ela quanto Lula estão no processo de “passar o bastão”, evitando citar nomes de novas lideranças do PT que devem sucedê-lo. Afirma que o governo vai tentar “privatizar as universidades federais no Brasil” e que a Educação se tornou a pauta unificadora da ala progressista da sociedade, mais do que as aposentadorias e o mercado de trabalho. E avalia que um novo projeto de esquerda para enfrentar a extrema direita ainda está em construção

          Leia trechos da entrevista.

          UOL: O Brasil presenciou manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas a favor e contra o governo Bolsonaro. Como a sra. encara isso quatro anos depois das manifestações que antecederam o seu impeachment?
          Dilma Rousseff: Naquele momento, houve uma grande interferência e manipulação principalmente da mídia tradicional, que praticamente convocava as manifestações. E houve uma clara cisão entre um lado e outro.

          Neste momento, as manifestações tanto de apoio quanto às contrárias ao governo Bolsonaro refletem uma realidade de radicalização crescente no Brasil. Nesse período todo, foi incentivado o ódio, a intolerância, o processo discriminatório contra movimentos sociais, como negros, LGBTI, mulheres, ambientalistas etc. Foi incentivada a cultura da violência através da valorização imensa do porte de armas.

          Do outro lado, a mobilização dos estudantes, professores, alunos do curso secundário. Quando houve aquele que foi um dos aspectos toscos e grosseiros do governo Bolsonaro, dizer que aqueles que faziam “balbúrdia” iam ter um corte de 30% das universidades federais. Como se corte no Orçamento da União pudesse ser feito baseado em critérios quase que de vingança sobre seguimentos sociais. Isso não é admissível em um país democrático – o que o Brasil está deixando de ser.

          No caso das manifestações da educação, elas não são produto de um conflito de ódio. É produto de uma sensação profunda, estratégica, de perda para o seu próprio país, para sua comunidade e para cada um individualmente.

          UOL: Você acompanhou uma insurreição do Congresso contra seu mandato. Vê paralelos com o processo de desgaste do governo Bolsonaro junto ao parlamento, acha possível ele sofrer a mesma coisa no futuro?
          DR: Não acho que tenha qualquer similaridade. Os dois processos fazem parte de momentos distintos e com lógicas diferentes. No caso do impeachment, o Congresso Nacional teve um grande parteiro, que foi o senhor Eduardo Cunha - inequivocamente a mente que estava por traz do impeachment e do próprio governo Temer.

          O centro, a centro-direita e a direita renunciaram à sua condição democrática. E ao perceberem que nós tínhamos ganhado quatro eleições presidenciais consecutivas, viram no processo de impeachment e no golpe de Estado parlamentar uma possibilidade de mudarem a agenda. O que vinha sendo derrotado nas eleições? Obviamente não era a ideologia do MDB, porque ele não tem ideologia. A ideologia que o MDB tinha foi emprestada do mercado, que era reenquadrar o Brasil no neoliberalismo. Foi gestado um golpe de Estado, com a adesão do PSDB e do MDB. Eles abriram a caixa de Pandora. E os monstros que de lá saíram, para poderem viver, os engoliram. Todo o processo de extrema-direita.

          Este governo está baseado em uma dupla questão. É um governo neoliberal e um governo neofascista. Essa visão incomoda o centrão, a direita mais civilizada, a centro-direita. Eles achavam que iriam tutelar o Bolsonaro, que iriam conseguir fazer com que Bolsonaro se civilizasse um pouco. E não os constrangesse com as manifestações toscas, não civilizadas, grosseiras que ele faz sistematicamente. Esta última ele fez sobre os nordestinos é um absurdo.

          O governo Bolsonaro pode, de fato, implantar as reformas neoliberais, privatizar as estatais, diminuir até zerar o controle e a regulação do meio ambiente, aumentando não só o desmatamento, como aumentou, agora, em junho, e liberando os agrotóxicos, desregulamentando o mercado de trabalho, entregando a reforma da Previdência. Não é que enquanto o governo for útil ele continua – ele é útil porque esse “enquanto” leva quatro anos.

          Está na pauta a mais violenta privatização do país. E não só a Petrobras que eles estão entregando, eles querem privatizar as universidades federais. Eles vão vender. Vão tentar passar para OS [Organização Social] e depois de passar, vão tentar privatizar. O que eles pensaram? Que era fácil, que seria tranquilo conter o governo Bolsonaro, mitigar o governo Bolsonaro. Mas ele tem um componente neofascista que não é mitigável, que não é passível de ser contido. Foge dos controles. 

          Esta é a contradição que a direita e a centro-direita terão que conviver ao longo desse processo daqui para frente. Eles precisaram de um impeachment, prender, condenar e impedir que concorresse à eleição o presidente Lula, um inocente – hoje claramente provado pela “Vaza Jato”. Isso é condição essencial para entender estes conflitos entre a Câmara, o Senado e o governo Bolsonaro. Esses conflitos não são relevantes diante da lógica que conduz o processo, que é uma lógica que implica impor reformas neoliberais e, ao mesmo tempo, ceder ao impulso bolsonarista de fazer uma política não civilizada, de desprezo por direitos sociais, direitos humanos, direitos trabalhistas e pelo meio ambiente no país.

          UOL: Há relação entre o estabelecimento da Comissão da Verdade, para que fossem esclarecidas mortes e desaparecimentos durante a ditadura, com a postura do Exército com relação ao governo Temer, à prisão do Lula e a eleição de Bolsonaro?
          DR: Atribuir à Comissão da Verdade o fato de que alguns militares tenham ido para o governo Temer e para governo Bolsonaro é absolutamente equivocado, frágil, inconsistente. Até porque foi no governo do Lula e no meu que várias questões centrais em relação às Forças Armadas foram tratadas e com muito respeito e visão estratégica de país e de soberania nacional. Os submarinos nuclear e tradicional, o KC-390, um avião estratégico, o caça Gripen – nunca ninguém investiu tanto. 

          No caso do Exército, tivemos todo o investimento na área de segurança cibernética, de armamentos leves, fomos capazes de construir tanques médios e vendê-los pelo mundo inteiro. Houve desenvolvimento da indústria militar no Brasil, que teve no Exército um ponto focal. Modernizamos inteiramente a engenharia do Exército porque, muitas vezes, eles nos ajudaram a fazer estradas, a fazer a interligação da bacia do São Francisco. Não acho que, no momento do golpe parlamentar, o Exército tenha tido uma ação pró-golpe. No máximo, foi uma omissão – mas a omissão do Exército é melhor do que a ação.

          UOL: O que justifica o comportamento de membros da ativa e da reserva com relação ao seu governo e ao PT?
          DR: Posso dar um conselho? Pergunte para eles. E mais: pergunte como aceitaram entregar a base de Alcântara [Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão] sem contrapartida nenhuma. Por que entregar uma Embraer para sua maior concorrente, que é a Boeing, que está com um problema seríssimo por causa daquele último avião que andou caindo por claras falhas de gestão [Dilma se refere ao Boeing 737 Max, com operações suspensas após dois acidentes fatais entre 2018 e 2019].

          UOL: A Comissão de Anistia adiou a análise de seu pedido de indenização por ter sido presa e torturada pela ditadura militar. A palavra final será da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Qual sua expectativa?
          DR: Olha, eu acho estarrecedor que a palavra final seja de alguém, e não da Comissão.
          Só acho muito estranho eles negarem que eu tenha sido torturada, como fizeram com a jornalista Miriam Leitão. O próprio presidente da República, como deputado federal, foi quem disse que o coronel Carlos Brilhante Ustra [ex-chefe do DOI-Codi] foi o meu “terror”. Suponho que foi o meu “terror” porque me torturou. Só se mudasse a lei, eu não teria direito. Então, aguardo para ver como a comissão se comporta.

          UOL: Qual a sua avaliação do projeto de Reforma da Previdência que acabou sendo aprovada pela Câmara dos Deputados em primeiro turno?
          DR: O mais grave do que foi aprovado é o fato de que não levaram em conta de que, no Brasil, há uma enorme rotatividade. Fingiram que não viram essa enorme rotatividade. E aí as exigências de tempo de trabalho e de contribuição permitem que a gente afirme que ninguém pobre, trabalhador, fará jus à aposentadoria integral porque jamais conseguirá cumprir o tempo de contribuição.

          Sempre que se muda a expectativa de vida de uma população, tem que se fazer ajustes e reformas na aposentadoria. Ninguém nega esse fato, tanto não nega que nós começamos a abrir o debate. Na medida em que elevamos a expectativa de vida dos brasileiros com nossas políticas sociais e de saúde pública, então nada mais justo do que abrir esse debate. Mas pretendíamos abrir estabelecendo um diálogo forte entre vários segmentos da sociedade, criando uma comissão que tivesse representação dos trabalhadores, dos empresários, dos aposentados, dos parlamentares – enfim, que todas as áreas fossem contempladas para levar a um caminho.

          Tínhamos um princípio: não iríamos alterar direitos adquiridos e teria que se ter um tempo de transição. Mas é muito difícil fazer uma reforma da Previdência em um quadro de grave crise econômica como estamos enfrentando. Quanto mais há crescimento econômico, mais há trabalho disponível e emprego e os descontos para a aposentadoria. Quando há crescimento econômico saudável, não tem precarização ou trabalho parcial – há trabalho formalizado, em carteira e a contribuição também aparece. Mas é óbvio que precisa de ajustes por conta da expectativa de vida. Nós fizemos um dos ajustes, que foi o fator previdenciário. E a gente estava em discussão em como construir uma alteração permanente.

          UOL: Quais seriam as alterações que faria? Estabelecer uma idade mínima para os que ganham mais?
          DR: Nós não chegamos aí, você está querendo que eu especule sobre uma coisa que fui interrompida no meu diálogo previdenciário por conta do processo do qual fui vítima.

          UOL: Avalia como correta a oposição do PT ao projeto?
          DR: O PT fez muito bem em fazer oposição ao projeto. Aquele projeto está capenga, vai ser modificado. Não aposto em uma mudança – levo em conta o que eles dizem. Não acho que é fake news o fato de o ministro Paulo Guedes (Economia) dizer que o cerne do projeto é a capitalização. Há indicadores de que o Ministério da Economia está muito interessado nos fundos compulsórios do País, que são aqueles decorrentes da contribuição dos trabalhadores. Tanto o FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], quanto o FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço], quanto a Previdência. Ele quer disponibilizar esses recursos para o setor financeiro privado.

          O objetivo desse governo não é garantir trabalho digno e aposentadoria digna para as pessoas. O objetivo é disponibilizar os recursos desse país, que são vastos, para um grupo minoritário, no caso o capital financeiro.

          UOL: Qual pauta une PT e a oposição hoje?
          DR: A Previdência continua sendo, o mercado de trabalho sempre será, mas acho que a educação no Brasil é central. 

          UOL: A defesa da libertação do ex-presidente Lula não acaba consumindo mais tempo que outras pautas, como a Reforma da Previdência? 
          DR: Por que o PT defende e considera que o Lula Livre é uma pauta central nesta conjuntura? Porque no Lula, por questões históricas e da conjuntura, se concentraram as questões fundamentais. Uma, da democracia. É no Lula que se expressa o Estado de exceção, os vícios de uma política judiciária que persegue e que cria a “Justiça do inimigo”. A questão de a imprensa ser a quarta instância do Judiciário, que julga, condena e penaliza. E, outra, o motivo popular, social e nacional. É no Lula, representando os governos do PT, que se expressa a luta do Brasil por um outro desenvolvimento não atrelado ao capital internacional.

          Não que não se possa fazer parceria com capital internacional. Se pode e se fez. Mas no Lula se expressa a defesa da Petrobras e da Eletrobrás, a descoberta do pré-sal, o KC-390 [cargueiro a jato da Embraer]. No exemplo Lula é que se pode dizer que existe um outro desenvolvimento possível. O Lula junta as duas pautas. Mostra que é necessário fazer uma reforma da Previdência que contemple não só os interesses dos patrões, mas os interesses da classe trabalhadora, da classe média, que trabalha e que paga. 

          No Lula, está a pauta da distribuição de renda e de riqueza. Mínimo de distribuição de riqueza para um povo passa por terra, que nós fizemos. Mas para fazer essa distribuição, os pobres teriam que estar no orçamento. Ninguém que tem uma visão ultraneoliberal da sociedade queria isso.

          UOL: A esquerda tem projeto para enfrentar a extrema-direita que chegou ao poder?
          DR: Este projeto está em construção. É é produto não só da esquerda, mas da sociedade também, das lutas sociais. Temos referências fortes – os governos do PT. E o que nós conquistamos nesse processo está sofrendo ameaça. Hoje, temos de lutar por coisas que já tínhamos conquistado, mas também temos de avançar mais. É impossível deixar 63 milhões de pessoas sem assistência médica, que é o número de pessoas atendidas pelo Mais Médicos. E os remédios gratuitos para doenças crônicas, do Farmácia Popular, que eles acabaram. 

          Sou inteiramente contrária à atual política de preços da Petrobras. País nenhum do mundo atrelou o preço do seu petróleo ao dólar, principalmente países que têm a quantidade de petróleo que nós temos. Para dar valorização ao investidor internacional? Era melhor, então, não abrir o capital. Pergunta pra China. 

          Por 30 anos, o Brasil construiu uma política ambiental que possibilitou reduzirmos o desmatamento. Fomos estratégicos para construir o Acordo de Paris. Agora, vemos o desmatamento crescendo e a liberação de agrotóxicos. E temos que avançar em várias questões. É um absurdo a política de spreads praticada pelo setor oligopolista financeiro no Brasil. Não é possível alguém mais acreditar que spread de 100% seja viável. Temos um setor financeiro oligopolizado e sem disputa.

          UOL: Nesse sentido, você está alinhada ao ministro Paulo Guedes, que também reclama da concentração bancária.
          DR: No dia em que Paulo Guedes reclamar da concentração bancária, estarei muito feliz de estar alinhada com ele. Ele jamais será contra a concentração bancária. Ele é um deles. Você está confundindo discurso e retórica com realidade. Mas te asseguro que não tenho problema nenhum de ficar a favor daqueles que defendem aquilo que acredito. E vão querer fazer imposto sem tributar dividendo? Nós cansamos de tentar fazer essa tributação. 

          Os meios de comunicação terão que ser democratizados. E isso não tem nada ver com venezualização e bolivarianismo. Ou você mexe na estrutura de olipogopólio, ou não tem democratização. Hoje, está em questão no mundo o controle da mídia social. A questão sobre o controle do Facebook sobre o Instagram e o WhatsApp e da neutralidade das plataformas. A Amazon está sendo objeto de uma acusação de oligopólio pela União Europeia. Esse processo no Brasil foi extremamente demonizado, como se quisesse controlar a liberdade de imprensa. Hoje, está claro que jamais quisemos controlar a liberdade de imprensa, quem quer controlar a liberdade de imprensa é o governo Bolsonaro.

          Nós sempre respeitamos a liberdade de imprensa. Queremos que o oligopólio seja completamente desconstruído. É algo que, para ser tentado, tem que ser alterada essa correlação de forças, pois você perde no Congresso no dia seguinte. Não fomos até as últimas consequências, tínhamos que ter ido. Porém, não era no sentido de controlar o que sai, mas de desconstruir a concentração brutal que tem no Brasil.

          UOL: A sra. sai candidata de novo em 2020 ou 2022?
          DR: Não pretendo.

          UOL: Quem a sra. vê como nova liderança se estabelecendo no Partido dos Trabalhadores?
          DR: Muitos.

          UOL: O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad?
          DR: Querido, você não vai me fazer citar ninguém. Tem muitas pessoas. Fernando Haddad certamente é uma. Tem pessoas fora, como o [Guilherme] Boulos [PSOL e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto]. Pessoas que estão emergindo. Você leva anos para criar lideranças. Eu e o Lula e outros da minha geração estamos na fase de passar o bastão. Sabe a corrida de bastão? Eu não preciso me candidatar para estar correndo, Lula está correndo também, está na prisão, mas está correndo.

          UOL: Ano que vem há eleição municipal.
          DR: Aí começam a aparecer as lideranças. Governadores do PT, os prefeitos, os deputados estaduais, os deputados federais, é daí que surge.

          UOL: O PT deve abrir mão da cabeça de chapa em determinadas disputas?
          DR: Quem disse que as lideranças serão só do nosso partido? Eu citei o Boulos até para enfatizar esse fato. Cito o [governador] Flávio Dino [PCdoB] para enfatizar também. Porque elas estão surgindo. Quanto mais as pessoas aparecerem e estiverem nas suas lutas e nas lutas do país, mais lideranças nós vamos ter. Agora é a hora que vão nascer muitas.

          UOL: A ferida do impeachment já cicatrizou? Qual é a cicatriz mais difícil de fechar, a deixada pelo impeachment ou a deixada pela ditadura?
          DR: Não são cicatrizes. São experiências dramáticas e terríveis, que obviamente são pessoais, mas também são do País. São momentos históricos, duros de se viver, de sobreviver. Eu tenho muito orgulho de ter sobrevivido aos dois [ao impeachment e à ditadura]. Com dignidade. Oque a gente tem que esperar da gente é isso: ter coragem para enfrentar e resistir. E ter sempre a força da sua convicção de que está no caminho certo. Porque se você não tiver a força da certeza que está no caminho certo, aí, de fato, é ferida, é cicatriz, cabem essas palavras. Mas, no que eu vivi, não cabe não.


          Com informações do UOL