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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Uganda impõe taxa a usuários de WhatsApp e Facebook para 'coibir fofocas'

O governo diz que a receita será usada para pagar a crescente dívida pública do país africano.

Por BBC
 
Governo de Uganda quer cobrar uso de aplicativos como WhatsApp (Foto: AFP)Governo de Uganda quer cobrar uso de aplicativos como WhatsApp (Foto: AFP)
Governo de Uganda quer cobrar uso de aplicativos como WhatsApp (Foto: AFP)
O Parlamento de Uganda aprovou uma nova lei que impõe a cobrança de uma taxa de usuários de redes sociais e aplicativos de mensagem.
Serão cobrados 200 shillings (R$ 0,20) por dia de quem usar serviços como Facebook, WhatsApp, Viber e Twitter.
O presidente Yoweri Museveni defendeu a mudança, argumentando que essas plataformas incentivam a disseminação de fofocas.
A medida entrará em vigor em 1º de julho, mas ainda há dúvidas de como será implementada.

Dívida

Yoweri Museveni, presidente de Uganda (Foto: AFP)
A lei criou ainda outras taxas, como a cobrança de 1% sobre o valor total de transações financeiras feitas por celular, o que várias organizações civis dizem que afetará os mais pobres, que raramente usam serviços bancários.
O secretário de Estado de Finanças, David Bahati, disse ao Parlamento que isso é necessário para ajudar o país a pagar sua crescente dívida pública.
Especialistas no tema e ao menos um dos principais provedores de internet do país questionaram como uma taxa diária sobre redes sociais e aplicativos de mensagem será aplicada.
O governo tem dificuldade de garantir que todos os cartões SIM sejam registrados. E dos 23,6 milhões de assinantes de planos de telefonia celular, apenas 17 milhões usam a internet, de acordo com agência de notícias Reuters.
Portanto, não está claro como as autoridades conseguirão identificar quem acessa esses serviços.

Liberdade de expressão

O presidente Museveni fez campanha pela lei em março passado, quando divulgou uma carta dizendo que a nova taxa sobre redes sociais e aplicativos de mensagem ajudaria o país a "lidar com as consequências de olugambo [fofocas]".
Mas ele argumentou que não deveria haver uma taxa sobre planos de dados para celular, porque os considera importantes para fins "educacionais, de pesquisa e de buscas por referências".
Críticos disseram na época que a lei limitaria a liberdade de expressão. Mas o governo respondeu afirmando que a medida não limitaria o uso da internet.
Os recursos arrecadados serão usados para "manter a segurança do país e ampliar o acesso a eletricidade, para que as pessoas possam disfrutar mais das redes sociais", segundo as autoridades.

Informações 'falsas'

As redes sociais se tornaram uma ferramenta política importante em Uganda, tanto para o partido do governo quanto para a oposição.
O acesso a essas plataformas foi proibido durante as eleições presidenciais de 2016. O presidente Museveni disse na época que isso foi feito para "impedir que mentiras se espalhassem".
Outros países da África Oriental estão aprovando leis criticadas por ativistas, que consideram que isso pode afetar a liberdade de expressão.
O governo da Tanzânia, por exemplo, impôs restrições a blogueiros, exigindo que paguem uma taxa e divulguem quem lhes dá apoio financeiro.
No Quênia, uma nova lei contra cibercrimes entrou em vigor no dia 30 de maio. Jornalistas e blogueiros conseguiram na Justiça do país suspender uma medida que veta informações "falsas", o que eles acreditam ser uma tentativa de amordaçar a mídia independente.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/uganda-impoe-taxa-a-usuarios-de-whatsapp-e-facebook-para-coibir-fofocas.ghtml

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Prisão de Lula "mancha a democracia brasileira", dizem intelectuais

Lançado por lideranças intelectuais e de direitos civis como Noam Chomski, Angela Davis, Leonardo Padura, Thomas Piketty e Boaventura de Souza, manifesto denuncia a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pede a sua imediata libertação.

Reprodução
  
Intitulado “Lula da Silva é um prisioneiro político. Lula Livre!”, o documento já conta com a assinatura de mais de trezentos acadêmicos e intelectuais de todo o mundo. o manifesto aponta ainda os abusos e arbitrariedades do processo contra o ex-presidente, afirmando que ele é um prisioneiro político.
 
A petição declara que “os abusos do Poder Judiciário contra Lula da Silva configuram uma perseguição política mal disfarçada sob manto legal" e que "sua detenção mancha a democracia brasileira".

"Os defensores da democracia e da justiça social no Oriente e no Ocidente, no Norte e no Sul do globo, devem se unir a um movimento mundial para exigir a libertação de Lula da Silva”, salienta um trecho do documento.
 
O manifesto é endossado por juristas mundialmente reconhecidos, como Karl Klare, Friedrich Müller, António José Avelãs Nunes e Jonathan Simon. Pesquisadores do chamado lawfare (perseguição via judiciário), como John Comaroff, Eve Darian-Smith, Tamar Herzog e Elizabeth Mertz, também são assinam o manifesto.
 
Confira a íntegra do manifesto: 
 
Lula da Silva é um preso político. Lula livre!
 
Manifestamos aqui nossa profunda preocupação com as circunstâncias nas quais o ex-presidente brasileiro Lula da Silva foi julgado e preso. Sobram evidências de que Lula da Silva foi vítima de uma guerra jurídica (Lawfare), ou seja, abuso de poder judicial para fins políticos. Portanto, a comunidade internacional deve considerá-lo e tratá-lo como um preso político.
 
O julgamento de Lula foi conduzido como parte da chamada Operação Lava Jato, uma investigação sobre pagamentos de propina a executivos da Petrobrás e políticos, alguns dos quais ocorreram enquanto Lula era presidente. Embora críticos afirmem que "Lula deveria saber" ou que “Lula deve ter ganho algo”, não há evidências de sua participação no pagamento de propinas. De acordo com a lei brasileira, a corrupção é uma relação de troca. Para condenar Lula por corrupção, o Ministério Público deveria provar que ele participou das fraudes a licitações e/ou recebeu bens ou valores em contraprestação por tais atos ilícitos.
 
Em 2016, Lula foi acusado de receber um apartamento modesto da OAS, uma das contratadas da Petrobrás envolvidas no esquema de corrupção. No entanto, não há conversa telefônica gravada, transações bancárias, transferência de fundos ou títulos de propriedade que deem base para a acusação contra Lula. Ele nunca utilizou ou se beneficiou com o apartamento. Pior ainda, mais tarde veio a público a informação de que o mesmo apartamento havia sido dado como garantia pela OAS em transação de empréstimo de longo prazo, não obstante a acusação de que Lula era o dono do imóvel.
 
A falta de provas incriminatórias foi desconsiderada por Sergio Moro, o juiz responsável pelo caso contra Lula. Moro baseou sua decisão em “colaboração informal” (nem mesmo uma delação premiada) de Leo Pinheiro, proprietário da OAS. Pinheiro já havia sido condenado a 26 anos de prisão quando decidiu “colaborar” e envolver Lula. Ele afirmou que o apartamento era "destinado" a Lula, uma acusação que contradiz outros 73 depoimentos, mas que foi considerada suficiente para o juiz Moro condenar Lula da Silva. A sentença de Pinheiro, por sua vez, foi reduzida para três anos e ele foi posto em regime semiaberto.
 
Além de não provar que Lula era proprietário do apartamento, o Ministério Público não pode apontar nenhuma ação ou omissão específica que Lula tenha executado para beneficiar a OAS. Lula havia sido acusado de beneficiar essa empresa com três contratos de fornecimento para a Petrobrás. Após meses de investigações, nenhuma prova material nesse sentido foi encontrada. Moro então condenou Lula por ter praticado “atos indeterminados de corrupção” que teriam beneficiado a OAS. Essa categorização inverte o ônus da prova e a presunção de inocência e simplesmente não existe no sistema jurídico brasileiro.
 
Inadvertidamente, o próprio juiz Moro admitiu que não tinha jurisdição sobre o caso de Lula. Ao julgar um recurso apresentada pela defesa, ele declarou que “jamais afirmou… que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobrás foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente”. Se o caso não tem relação com a corrupção da Petrobrás, ele não deveria ter sido julgado por Moro.
 
Em termos mais simples, pode-se dizer que, no processo de Lula, o magistrado escolheu o réu e, atuando como investigador, promotor e juiz, condenou-o por ter cometido “atos de ofício indeterminados de corrupção”. Tal sentença, pelo seu próprio texto, não encontra sustentação legal e constitucional, inclusive pelas normas brasileiras, uma vez que se refere a “atos indeterminados”. Uma sentença que se refere a crimes “indeterminados” não resiste a qualquer escrutínio jurídico lógico e razoável, sendo completamente Kafkiana. Além disso, a referência a “atos de ofício” é irreal, pois as acusações infundadas que motivaram a sentença de Moro se referem a uma narrativa que começa em 2013, bem depois de Lula ter deixado o cargo.
 
A guerra jurídica contra Lula também incluiu táticas para manter seu caso sob a jurisdição de Moro a qualquer custo. Em março de 2016, Moro vazou ilegalmente escutas telefônicas envolvendo a presidente em exercício, Dilma Rousseff, que tratavam da nomeação de Lula como Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República. Moro alegou, novamente sem provas, que essa nomeação era um meio de “obstrução da justiça”, já que, uma vez nomeado para o governo, Lula seria julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não pelo próprio Moro. Embora a imparcialidade de Moro tenha sido questionada, o Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4), a instância a rever imediatamente o caso de Lula na estrutura judiciária brasileiro, considerou que a Operação Lava Jato era “excepcional” e que as regras “ordinárias” não se lhe aplicavam.
 
A natureza Kafkiana do julgamento de Lula foi reforçada quando, em agosto de 2017, o Presidente do TRF-4 declarou que a sentença de Moro contra Lula era “tecnicamente irrepreensível”, embora admitisse que nem havia lido o caso. Enquanto isso, sua chefe de gabinete postava em sua página no Facebook uma petição solicitando a prisão de Lula da Silva.
 
Em seguida, o TRF-4 acelerou a apreciação do caso. O julgamento da apelação contra a sentença de Moro que condenou Lula foi colocado à frente de 257 outros casos pendentes. O relator levou apenas seis dias para concluir sua análise do caso, em um processo que tinha literalmente milhares de páginas e horas de depoimentos. A turma do Tribunal levou 196 dias para julgar a apelação quando, em média, necessita de 473 dias para julgar casos semelhantes. O TRF-4 também ordenou a prisão de Lula tão logo do julgamento da apelação, o que aconteceu com apenas 3 dos outros 20 acusados na Lava Jato, cujos mandados de prisão foram emitidos apenas meses depois.
 
Lula então pleiteou um Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), visando afastar a possibilidade de prisão imediata, dado que ainda tinha o direito de entrar com recursos. De acordo com a Constituição brasileira, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Dada essa previsão expressa na Constituição, é importante notar o seguinte: a sentença proferida por Moro contra Lula, cuja condenação foi mantida e ampliada pelo TRF-4 (de 9 para 12 anos de prisão), ainda pode ser revista pelos Tribunais Superiores, incluindo o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o STF (Supremo Tribunal Federal), este último a instância mais elevada no país para questões constitucionais.
 
Em voto decisivo para a negativa do Habeas Corpus a Lula, uma Ministra do STF declarou que teria votado de outra forma se a Corte estivesse analisando a questão constitucional em abstrato, ao invés de sua aplicação específica ao caso de Lula. Na véspera da votação, o Comandante Geral do Exército tuitou uma mensagem para a Corte, dizendo que “o Exército não tolerará a impunidade”. Por essa ameaça velada, ele não recebeu reprimendas, mas sim uma “curtida” vinda da conta do Twitter do mesmo TRF-4 que confirmou a condenação de Lula.
 
Na manhã seguinte, o juiz que preside o TRF-4 previu, em entrevista à imprensa, que a prisão de Lula não ocorreria em menos de um mês, considerando todos os procedimentos ainda pendentes no tribunal. À tarde, no entanto, o TRF-4 pediu a Moro que ordenasse a prisão de Lula. Moro levou dezenove minutos para proferir decisão, a qual reconhecia que Lula ainda tinha direito a interpor um recurso perante o TRF-4, mas considerava que esse recurso é uma “patologia protelatória” que “deveria ser eliminada do mundo jurídico".
 
Não é de surpreender pesquisa recente na qual 55% dos entrevistados no Brasil concordam que “Lula está sendo perseguido pelo Judiciário” e 73% concordam com a afirmação de que “os poderosos o querem fora das eleições” nas quais ele ainda é, de longe, o candidato favorito.
 
Os abusos do poder judiciário contra Lula da Silva configuram uma perseguição política mal disfarçada sob manto legal. Lula da Silva é um preso político. Sua detenção mancha a democracia brasileira. Os defensores da democracia e da justiça social no Oriente e no Ocidente, no Norte e no Sul do globo, devem se unir a um movimento mundial para exigir a libertação de Lula da Silva.
 
Exigimos: Free Lula, Lula Libre, Liberté por Lula, Freiheit für Lula, Lula Libero, حرية, 释放卢拉,룰라 석방하라!, חוֹפֶשׁ, フリーダム, Свободу Луле, Lula Livre!
 
Lula da Silva is a political prisoner. Free Lula!


Do Portal Vermelho

    Argentinas protestam em defesa da legalização do aborto

    Milhares de argentinas protestaram nesta segunda-feira (28) em várias cidades do país a favor da legalização do aborto. A proposta que está em análise no parlamento do país. 

    Divulgação
    Estima-se que cerca de 500 mil abortos clandestinos sejam realizados anualmente na Argentina e esta é a principal causa de morte maternaEstima-se que cerca de 500 mil abortos clandestinos sejam realizados anualmente na Argentina e esta é a principal causa de morte materna
    Recentemente, dois casos de gravidez em crianças de 11 anos de idade, vítimas de alegadas violações e abusos sexuais, reavivaram a discussão sobre o aborto na Argentina, motivando várias manifestações contra e a favor da interrupção da gestação.

    O maior dos protestos desta segunda-feira foi organizado em frente ao Congresso argentino, no centro de Buenos Aires, onde a Câmara dos Deputados planeja debater em 13 de junho sobre um projeto de lei que contempla a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE).

    Cerca de 2 mil mulheres se reuniram em frente ao Congresso com bandeiras e cartazes pró-aborto. Também houve manifestações em Rosario e Córdoba, entre outras cidades.

    "Educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar, aborto legal para não morrer" é o lema das organizações que estão agrupadas na Campanha pelo Aborto Legal, Seguro e Gratuito, uma organização que impulsionou o projeto para a análise legislativa.

    O debate sobre a legalização do aborto divide parte da sociedade argentina e as lideranças políticas. O presidente Mauricio Macri permitiu que o Parlamento debatesse o projeto, mas declarou ser contra a legalização do aborto.

    Crianças abusadas

    Num dos recentes casos de gravidez em meninas de 11 anos de idade no país, uma das garotas apareceu no hospital em Salta, no norte da Argentina, com dores abdominais. Posteriormente, ela acabou por dizer que o padrasto abusou dela. Naquela província, a lei apenas permite a interrupção da gravidez até a 12ª semana, e a menina estava na 19ª semana de gestação.

    No outro caso, uma garota da província de Mendoza decidiu manter a gravidez e já está no quarto mês de gestação. A situação veio à tona após a queixa de uma professora. A menina também foi alvo de abusos do companheiro da mãe.

    O artigo 86 do Código Penal da Argentina declara a interrupção da gravidez como ato não punível se a vida ou a saúde da mulher estão em risco, se é fruto de estupro ou atentado ao pudor cometido contra uma mulher com deficiência intelectual.

    Em 2012, a Corte Suprema declarou que o aborto é permitido em caso de violência. Mas várias províncias ainda não aderiram a essa decisão. Mendoza é uma das que não aderiu, enquanto em Salta foi aprovada apenas há dois dias, depois do caso da menina de 11 anos vir à tona.

    O aborto é a principal causa de mortalidade materna na Argentina. Todos os anos há cerca de 50 mil internações em hospitais públicos para casos de interrupção da gravidez, relatou o ministro da Saúde, Adolfo Rubinstein. Estima-se que cerca de 500 mil abortos clandestinos sejam realizados anualmente na Argentina. 

    Do Portal Vermelho, com Opera Mundi

      Maioria de mortes maternas no país ocorre entre mulheres negras jovens

      Mais da metade (54,1%) das mortes maternas no Brasil ocorrem entre as mulheres negras de 15 a 29 anos. A população negra feminina também tem duas vezes mais chance de morrer por causas relacionadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto do que as mulheres brancas.

        
      A informação foi destacada pela doutora em saúde pública, Fernanda Lopes, durante as discussões da 4ª Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial (Conapir). O evento está sendo realizado em Brasília com a presença de especialistas, pesquisadores e ativistas da causa racial de vários estados para levantar propostas de enfrentamento ao racismo.

      Com base em estatísticas do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a especialista, que também integra o grupo de racismo e saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), apresentou algumas variáveis que mostram a desigualdade racial no âmbito da saúde pública.

      Pesquisadora Fernanda Lopes participa da 4ª Conapir - Fabio Pozzebom/Agência Brasil

      “Estas mulheres morrem com uma frequência maior, prioritariamente por hipertensão, um problema que poderia ser identificado lá no pré-natal. Mas, estas mulheres são as que menos têm informações sobre sinais de parto, que com mais frequência têm o pré-natal considerado inadequado e são aquelas que mais peregrinam até conseguirem vaga na maternidade para dar à luz”, destacou Fernanda.

      Apesar de o Brasil ter reduzido consideravelmente os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não conseguiu atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de reduzir em 75% o índice de mortes até 2015. A cada 100 mil nascidos vivos, ainda morrem no país uma média de 60 mulheres em idade fértil.

      Racismo institucional

      A pesquisadora disse ainda que as mulheres negras recebem com menos frequência recursos para alívio da dor durante o parto, como tomar água, andar, tomar banho, ganhar massagem ou mesmo ter a opção de ser anestesiada. Além disso, de acordo com o levantamento apresentado por Fernanda, as mulheres negras têm menos chance de ter um acompanhante durante o parto e na maternidade e estão mais sujeitas a ouvir expressões discriminatórias. Ela cita entre os dados coletados na pesquisa frases ouvidas pelas pacientes por agentes de saúde como "na hora de fazer não reclamou". 

      “Isso é racismo institucional, é violência obstétrica e é violência de gênero. É um tipo de violência que só as mulheres vivem”, ressaltou Fernanda. A pesquisadora explicou que o racismo institucional na saúde se expressa pela desigualdade no atendimento dos profissionais da saúde à mulher negra e na negação a ela de acesso a proteção e direitos. Este tipo de discriminação também tem impacto na organização e no funcionamento dos serviços de saúde.

      “A violência obstétrica começa no pré-natal. Então, quando a gente está falando lá na atenção básica que estas mulheres têm menos acesso à informação, isso é expressão de violência institucional. Se estas mulheres peregrinaram mais até conseguirem vaga no hospital, é expressão do racismo institucionalizado”, detalhou.

      No atendimento pós-parto, os índices também apontam para uma desvantagem das mulheres negras, principalmente as mais jovens, em relação às brancas. “Em uma avaliação da estratégia da família e da Rede Cegonha se observou que eram as mulheres mais jovens e negras que recebiam com menos frequência a visita da equipe de saúde da família durante o período de puerpério”, completou.

      Entre as propostas para enfrentar o problema, a pesquisadora sugere que o país melhore as pesquisas sobre percepções das pacientes sobre atitudes discriminatórias nos serviços de saúde.


      Fonte: Agência Brasil

      Cuba intensifica luta contra aquecimento global

      Em um período político de transição, marcado pela eleição do novo presidente Miguel Díaz-Canel, entre outros pontos, a questão da mudança climática foi inserida na agenda social de Cuba. Isso pode ser observado por meio do programa do país caribenho batizado de Tarea Vida [Tarefa Vida, em português], que é um pacote de medidas para combater o aquecimento global entregue à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).


      Por José Diaz

      Reuters
      Furacão Irma atingiu Havana em 2017Furacão Irma atingiu Havana em 2017
      Promovido pelo governo cubano desde abril de 2017, o pacote inclui medidas como a proibição de construção de casas nas orlas, realocação de comunidades vulneráveis e a redução das áreas de cultivo próximas ao mar e muitas outras.

      Ao todo, são onze medidas que tem como objetivo lutar contra as secas e estabelecer políticas nacionais de proteção dos solos e das águas, assim como a reflorestação de grandes extensões do território do país.

      Cuba possui uma das áreas naturais mais importantes do Caribe, a zona úmida pantanosa chamada de “Ciénaga de Zapata”, localizada ao sul da Província de Matanza, com uma extensão de 300 mil hectares. A proteção desta reserva é uma das prioridades do governo cubano com o Tarefa Vida.

      Uma das principais preocupações é que o aumento do nível do mar deixe o país, uma ilha de 109.884 km², bastante vulnerável. Para além disso, outros fatores de risco que ameaçam Cuba em decorrência da mudança climática são o aumento dos furacões e as secas prolongadas.

      Reconhecimento internacional

      A revista Science, órgão difusor da Associação Americana para o Avanço da Ciência, elogiou o plano de ações de Cuba para se proteger das mudanças climáticas no próximo século.

      Em entrevista à revista, a bióloga marinha Dalia Salabarria, do Centro Nacional de Áreas Protegidas, disse que a ideia geral do Tarefa Vida é aumentar a capacidade de recuperação das comunidades vulneráveis. Para o oceanólogo David Guggenheim, o programa é incrível e se destaca por ter uma visão à longo prazo.

      “Cuba é um país incomum, no sentido de que realmente respeitam seus cientistas. Sua política de mudança climática está alicerçada nisso”, ressaltou Guggenheim.

      O Ministério das Relações Exteriores, representado pela ministra cubana de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Elba Rosa López, apresentou para a FAO o Tarefa Vida em Roma, na Itália, no último mês, e teve uma ótima recepção.

      René Castro, subdiretor geral de Clima, Biodiversidade, Terra e Água da FAO, elogiou o programa e espera que a apresentação de Rosa López facilite a possibilidade de que Cuba consiga aplicar suas medidas com cooperação financeira das Nações Unidas. 

      Fonte: Brasil de Fato

        Um mês após morte de Matheusa, irmã acusa instituições de omissão

        Um mês atrás, a estudante de artes visuais Matheus Passareli saiu de uma reunião na agência de modelos em que trabalhava e pegou um Uber até uma festa de aniversário no Morro do Dezoito, na zona norte do Rio de Janeiro. Conhecida por todos como Matheusa, ou Theusinha, ela tinha sido chamada para fazer uma tatuagem na aniversariante, que pagaria 50 reais pelo trabalho. Nunca mais voltou.

        Robinson Barbosa
          
        Era um dinheiro que Matheusa não podia recusar. A estudante morava com a irmã na casa de amigos e se mantinha com os 500 reais da bolsa-auxílio que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Uerj, oferece aos estudantes cotistas. Desde 2015, quando começou a graduação, trabalhava para museus e projetos de arte e moda.

        Uma semana após o desaparecimento, a polícia confirmou que ela havia sido assassinada na mesma madrugada do desaparecimento. A demora se deu pela dificuldade de encontrar o corpo que, conforme a polícia averiguou, foi queimado após o crime.

        Para a irmã de Matheusa, Gabe Passareli, há outra pauta imediata para além da investigação. Prestes a se formar em terapia ocupacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela vem se articulando com estudantes e professores das instituições que Matheusa frequentava para cobrar mudanças nas políticas de permanência estudantil.

        “A gente não pode se prender só ao tiro, mas às desassistências, à falta de cuidado, às omissões. Minha irmã vinha num processo de estresse muito grande por conta da graduação”, diz Gabe. Em uma cerimônia realizada na Uerj em homenagem a Matheusa, ela leu um trabalho que a irmã havia feito pela faculdade, no qual criticava as condições oferecidas aos estudantes de baixa renda. A professora responsável nessa ocasião lhe deu nota zero, alegando que a peça era um “desabafo” e que ela faltava em aulas demais.

        Gabe diz que a irmã sofria de problemas psíquicos e que a desorganização da assistência estudantil só piorou essa condição. O dinheiro das bolsas não caía no dia certo, o que fazia com que ela tivesse de se desdobrar para pagar o aluguel. Ambas bolsistas, as irmãs se mudaram juntas para a capital vindas de Rio Bonito, no interior do estado. Nos últimos meses, chegaram a alugar quartos na casa de desconhecidos para se manterem na cidade.

        “Não estou responsabilizando a instituição pela morte da minha irmã, mas pela desassistência. A violência não é só o tiro. Quais são as questões estruturais do estado do Rio que colocaram o corpo da minha irmã em uma situação de extrema vulnerabilidade?”, questiona. “Não basta só entrar, precisa existir permanência e continuidade no processo de formação. Como isso está sendo garantido na Uerj?”

        Fora uma mensagem que recebeu via WhatsApp por uma assessora de comunicação da Universidade, ela afirma que a administração da Uerj nunca a procurou depois do assassinato. Estudantes do Instituto de Artes da Universidade organizaram uma missa ecumênica no campus para velar a amiga naquela semana. “O evento foi incrível, mas não encontrei ninguém da reitoria lá para falar comigo ou com a minha mãe.”

        Já a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), também pública, na qual Matheusa estava matriculada havia dois meses, chegou a instituir luto oficial de três dias e optou por não repor a vaga aberta pela morte da estudante, como forma de protesto. A escola se manifestou mais de uma vez sobre a execução, por meio de notas que citavam explicitamente a LGBTfobia implicada no caso.

        (Eis a razão: Matheusa se identicava como não-binária, ou seja, não se considerava homem nem mulher. O tema aparecia com frequência em seus trabalhos, assinados com o nome de batismo. Para falar da irmã, Gabe — também não-binária — alterna entre o masculino e o feminino.)

        A irmã de Matheusa, no entanto, afirmou que também não foi procurada pela equipe da EAV. A escola dá espaço a projetos engajados e atualmente expõe a mostra Queermuseu, censurada no Rio Grande do Sul no ano passado. “Vão usar essa exposição como se nada estivesse acontecendo”, diz Gabe. Ela ainda cobra que as duas escolas ofereçam suporte judicial no caso e usem o seu papel institucional para pressionar as autoridades a levarem as investigações até o fim.

        Procurada para se posicionar sobre as declarações, a escola disse que “reafirma sua indignação e revolta” com o crime, mas não negou a afirmação de Gabe. Citou as ações que tomou e afirmou que pretende “estender as discussões em torno da enorme violência sofrida por LGBTQI+ no Brasil, com especial atenção às dissidências sexuais, corpos transviados e travestis e transexuais, que ainda lutam por direitos básicos”, através de uma série de ações.

        Contatada pela Carta Capital, a Uerj emitiu nota e se mostrou surpresa com as declarações de Gabe. “São declarações certamente equivocadas, já que a Uerj acompanhou de muito perto todo o caso. E publicamente. O papel institucional da Uerj, nesse caso, é colaborar com a segurança pública e não pressionar a polícia — que, como se sabe, continua a investigação.”

        A universidade ainda afirmou que a reitoria e a comunicação institucional já estavam mobilizadas desde o dia 2 de maio em torno do desaparecimento, e alegou ter registros de contato com a família de Matheusa e a imprensa, “mediando a informação, durante todo o processo, até a cerimônia na capela ecumênica da Universidade”.

        “No mesmo dia 2 foram recebidos, no próprio gabinete da reitoria, mais de dez estudantes e duas professoras da graduação a que Matheus/Matheusa era ligado. Gabe não participou da reunião. Entendemos o clima de comoção geral e a ansiedade da família no sentido de ver solução para o crime, mas alegar omissão da universidade é inaceitável”, encerrava a nota.

        Por telefone, Gabe não gostou das respostas. “Minha irmã foi morta no dia 29. Como eles queriam que já no dia 2 eu estivesse na reitoria para falar com eles?”, disse. “As condições econômicas e sociais da minha irmã não são uma surpresa pra ninguém ali da Uerj. Qual assistência em relação à segurança pública eles estão oferecendo? Nunca ouvi falar.”

        Legado

        Para se preservar — tanto psiquicamente como contra possíveis ataques de facções —, Gabe parou de dar entrevistas à grande imprensa. Apesar disso, não repudia a cobertura feita sobre o caso até agora, e diz não ter medo, nem culpa em relação a como administrou o caso até agora.

        Uma série de homenagens a Matheusa deve ser organizada nos próximos meses, somando às intervenções que já aconteceram. Amanhã haverá um ato artístico no Rio, co-organizado pela irmã e por amigos da estudante.

        “De alguma forma, minha família está lidando mais ou menos bem com o fato de não ter um corpo”, diz Gabe. “Me falaram que o legado da minha irmã é a própria história dela. É sim. Mas não vão nos matar mais. Ela estava quinze passos a frente de todas nós.”


        Do Portal Vermelho, com Carta Capital