A situação tende a se agravar até a próxima quadra chuvosa. Se
não chover, os açudes devem secar
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07.09.2017
por
Honório Barbosa - Colaborador
Iguatu. O Açude Castanhão, maior do Ceará e
responsável pelo abastecimento de cidades do Baixo Jaguaribe e da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), registra o menor volume desde 2003,
quando foi inaugurado. O reservatório acumula apenas 4,4% da sua
capacidade, o equivalente a 294 milhões de metros cúbicos. É o reflexo
da maior e mais prolongada crise hídrica enfrentada pelo Estado.
Além do Castanhão, o Orós, o segundo maior reservatório, que atende
atualmente a demanda do Médio Jaguaribe, assiste diariamente a sua vazão
ser reduzida. O volume atual é de 8,7%. O Banabuiú, o terceiro maior do
Estado, permanece seco. As reservas hídricas nos 154 açudes monitorados
pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) totalizam em
média 10,6% da capacidade.
O segundo semestre é caracterizado por escassez de chuvas no Ceará. É
um período crítico, que agrava a situação de queda das reservas hídricas
nos reservatórios do Estado. O reduzido volume de água no Castanhão
compromete atividades produtivas (agricultura, pecuária e criação de
peixe em cativeiro) e o abastecimento de milhões de famílias.
O baixo nível dos reservatórios é consequência de seis anos seguidos de
chuvas abaixo da média no Estado. Não está descartada a possibilidade
de racionamento de água para as cidades da RMF e do Baixo Jaguaribe,
conforme reconheceu, recentemente, o secretário Dedé Teixeira, titular
da secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).
A travessia dos chamados "B-R-O Bros" (setembro a dezembro) vai trazer
fortes impactos mediante o sol intenso, cobertura de nuvens reduzida,
aumento da temperatura e da evaporação. "A situação é grave e
preocupante", adverte o meteorologista da Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz. "No segundo
semestre ocorrem apenas chuvas localizadas, de baixa pluviometria, em
poucos municípios. É quase que nulo".
Volume morto
Para o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) que
administra o Castanhão e outros reservatórios federais, o açude deve
alcançar o volume morto em fins de outubro ou início de novembro, quando
atingir a cota de 250 milhões de metros cúbicos. Tecnicamente, o volume
morto é a reserva de água mais profunda, abaixo da cota de captação, ou
seja, a liberação de água deixa de ser por gravidade e exige
bombeamento. "Nesse caso, teremos uma água mais cara e com qualidade
mais comprometida", observa o coordenador do Complexo Castanhão,
Fernando Pimentel. "Enfrentamos um quadro muito difícil com perda
elevada por evaporação e transferência de um milhão de metros cúbicos
por dia".
Já para a Cogerh, o Castanhão atinge o volume morto quando alcançar a
cota de 60 milhões de metros cúbicos. Atualmente, ele libera 4,3 m³/s
para o leito do Rio Jaguaribe e 3,0m³/s para o Eixão das Águas, que
atende a RMF. A Cogerh estima que, em 31 de dezembro de 2017, o
Castanhão deverá acumular cerca de 169 milhões de metros cúbicos.
No fim do ano, o Orós deverá ter um volume reduzido para 6,2%,
equivalente a 120 milhões de metros cúbicos. Atualmente, o açude libera
3m³/s para atender demanda de Feiticeiro, Lima Campos, Jaguaretama e
outras localidades no Vale do Jaguaribe. A preocupação é que o
governador autorizou a instalação, em caráter de urgência, de uma
adutora do Orós para Icó com vazão de mais 400l/s. O integrante do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, Paulo Landim, mostra
preocupação. "No ritmo que vai, o Orós deve chegar em fins de janeiro em
torno de 4%".
Crise
Neste período do ano, o sol está ardendo no sertão cearense e, nos
próximos meses, a temperatura tende a subir cada vez mais. No Estado, a
estação chuvosa ocorre entre fevereiro e maio. "Isso não significa que
não chova em outros meses, mas é uma quantidade insignificante para
repor as reservas hídricas", observa Fritz. A média pluviométrica de
junho, o primeiro mês após a quadra chuvosa, é de 37.5mm e a de julho é
somente de 15.4mm. Em agosto é de 4.9mm; em setembro, 2.2mm; em outubro
sobe para 3.9mm; em novembro, é de 5.8mm e em dezembro chega a 31.6mm.
Neste ano, junho apresentou em média um déficit de chuva de 32.1%. Em
julho ocorreu um índice positivo de 99.3%, mas em agosto voltou a cair, e
registrou um desvio negativo de 59,2%.
Os dados da Funceme revelam que o trimestre junho, julho e agosto foi
melhor neste ano, em comparação com 2016. Em julho do ano passado, houve
em média um déficit de 93.2%, mas, no mesmo período de 2017, ocorreu um
índice positivo de 99.3%. Em agosto choveu menos, tanto em 2016
(-98.8%), quanto em 2017 (-52.3%).
O meteorologista da Funceme, Raul Fritz observa que as reduzidas chuvas
ao longo do segundo semestre é uma característica climática da região
do Semiárido. "Em dezembro, geralmente ocorrem influências de sistemas
frontais da Bahia que chegam atingir o Sul do Ceará, o Cariri, que
apresenta a média mais elevada do Estado (66mm) para o período",
pontuou.
"Chove tão pouco no segundo semestre que às vezes uma chuva localizada
já ultrapassa significativamente a média", mostra Raul Fritz. Foi o que
ocorreu em Sobral, Quixeramobim e Pentecoste, que registraram as últimas
chuvas em agosto passado, no dia 27, variando entre 2.2mm a 4.7mm.
Os mapas de chuva da Funceme revelam que, ao longo do mês de agosto
passado, houve registro de chuva em 20 municípios, mas a maioria
precipitações muito reduzidas, abaixo de 5mm. A exceção foram chuvas de
29.6mm em Redenção e de 24mm em Quixeramobim, no dia 26. Nos outros dias
em que choveu houve registro praticamente em apenas uma localidade no
Estado.
Previsões
Mediante o grave risco de esgotamento das reservas hídricas
estratégicas no Estado (nos açudes Castanhão, Orós e também em outros
reservatórios de médio porte até fevereiro de 2018), a situação de perda
de água nos reservatórios tende a piorar. Muitos municípios podem
entrar em colapso. "Começamos o período mais crítico dessa série
histórica de seis anos de chuvas abaixo da média", observou o secretário
de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. "Caso não ocorram fortes
chuvas na próxima quadra invernosa, sem recargas dos açudes, vamos
depender da transposição do Rio São Francisco", completou.
Se não houver recarga na próxima quadra chuvosa, 2018 será o limite
para que a maioria dos açudes do Ceará entre em volume morto, atinja a
quota mínima e fiquem secos, ainda no primeiro semestre. "Por enquanto, é
difícil fazer qualquer previsão para a quadra chuvosa do próximo ano",
diz Raul Fritz. "A tendência é de um Oceano Pacífico com temperaturas
superficiais neutras e vamos depender novamente do Oceano Atlântico, que
tem uma bacia menor e muita variabilidade térmica em curto período de
tempo".
Fonte: Diário do Nordeste
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