As embarcações afundadas no Estado são consideradas parte de um patrimônio histórico e também beneficiam flora e fauna marinhas, como "recifes artificiais". Contudo, o furto de metais das 'carcaças' é um problema preocupante
Quem nunca se perguntou o que há no fundo do mar? Quantos mistérios repousam nas profundezas verdes? Ao passo que há dúvidas de sobra, o oceano pode guardar muitas respostas e informações históricas. No Ceará, pesquisadores contabilizam quase uma centena de embarcações naufragadas no litoral desde o início da navegação. As carcaças fazem parte de um patrimônio histórico de épocas importantes do passado, como a Segunda Guerra Mundial.
Mesmo após enfrentar uma guerra e tentar encontrar "repouso" nas profundezas, as embarcações (do ponto de vista patrimonial e biológico) sofrem com um problema contemporâneo: a "pilhagem", prática criminosa que consiste em implodir ou explodir as estruturas para o furto de peças de metal, como alumínio e cobre, para venda em sucatas.
Acredita-se que a pilhagem é algo que existe desde quando os primeiros barcos e navios começaram a navegar, e também naufragar. Contudo, com o passar das décadas, as carcaças tornam-se patrimônio de uma cidade, e com isso os furtos atingem um prejuízo com maior gravidade.
"O que a gente precisa fazer primeiramente é conscientizar as pessoas que os naufrágios são parte da nossa história. Num primeiro momento, uma embarcação pode não ter nada de importante. Pode ser só um barco de pesca qualquer. Mas isso muda no futuro. Por exemplo, se hoje você encontra um barco de pesca egípcio, isso é um item preciosíssimo", explica Marcus Davis, mestrando em Ciências Marinhas Tropicais, no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Naufrágio do Pecém
Uma das principais embarcações afundadas encontradas no litoral cearense é o "Naufrágio do Pecém" - batizado no nascimento como "Steamer Ship (navio a vapor) Baron Dechmont", de origem britânica. O afundamento é datado da Segunda Guerra Mundial, quando em 1943, submarinos alemães chegaram ao Brasil, com o objetivo de atacar e pressionar o País a tomar uma posição durante os confrontos - que acabou ficando contra os alemães.
"Durante a Guerra, existia uma operação dos alemães para impossibilitar o intercâmbio de abastecimento das tropas. Então, cerca de 13 submarinos atuaram na costa brasileira (em grande maioria alemães, mas também italianos). Eles afundavam os navios mercantes que abasteciam as tropas que estavam em guerra", comenta o pesquisador e mergulhador Augusto Bastos.
Marcus Davis acredita que hoje restam apenas cerca de 30% da estrutura que afundou na década de 1940, redução causada por pilhagens. Contudo, o Naufrágio do Pecém permanece como um belo cenário para mergulhadores que se aventuram pelo mar cearense, principalmente pela rica fauna e flora marinha que encontraram um lar no local. A engenheira de pesca e mergulhadora Lídia Torquato considera o cenário no litoral do Pecém como "coisa de outro mundo".
"Quando o naufrágio está lá, ele vira um recife artificial. E assim, permite que a flora e fauna marinha se instalem naquela estrutura". "Após a explosão, não tem mais vida marinha, os peixes são afugentados, vão ter que procurar outro local", explica Lídia sobre como a pilhagem impacta direta na vida marinha.
A Marinha do Brasil revela que, de acordo com a Lei nº 7.542 de 26/09/1986, alterada pela Lei nº 10.166 de 27/12/2000, "quaisquer atividades em naufrágios sem a observação da referida Lei e das normas pertinentes da Autoridade Marítima, classificam-se em infrações e são passíveis de autuações, multas e processos".
Fonte: Diário do Nordeste
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