“Que tipo de ser humano adulto queremos educar? Educar nossas crianças para serem adultos individualistas e egocêntricos ou educar para serem adultos humanos, responsáveis e generosos”.
Por Carlos Campelo Costa*
Perdemos uma grande oportunidade com o golpe na educação, realizado pelo governo Temer, de quebrar a lógica e o paradigma de elevar o debate da BNCC - Base Nacional Comum Curricular e trabalhar o currículo já no Ensino Fundamental, questões de gênero, preconceitos, machismos e intolerâncias.
A cultura patriarcal permanece muito, ainda por conta dos setores da sociedade, como a família, a escola e as igrejas. Refiro-me às que mantém um perfil conservador e não abertas às mudanças que argumentam e impõem com muita força a ideia de não ser papel da escola trabalhar as questões de convivência, empatia, alteridade e tolerância de um ser humano para outro ser humano, independente do gênero.
É na educação informal ou socialização primária que ocorre a principal formação e reprodução da cultura patriarcal. Começa ao acordar para o café da manhã em família. Lá se dá início às definições dos papeis dos gêneros. Nossas crianças meninos não choram, são fortes e não fracassam. São capacitados para serem os “futuros senhores”. Não se diz não para eles. Não aprendem a vivenciar emoções e rejeições que fazem parte do processo saudável de aprendizagem e convivência. O que nos torna humanos.
Agora a pergunta seria: que tipo de ser humano adulto queremos educar? Educar nossas crianças para serem adultos individualistas e egocêntricos ou educar para serem adultos humanos, responsáveis e generosos.
Se reconhecemos que o machismo e o feminicídio são um triste traço cultural da nossa sociedade atrasada e não educada (somos o quinto país que mais mata mulheres), imaginem quantos feminicídios, assédios, estupros e agressões teriam sido evitados se os meninos soubessem ouvir o não? A mulher “rejeitada” chora, sofre, se ampara com as amigas. E o homem rejeitado? Mata por que enxerga as mulheres como indefesas, submissas, como um prêmio, um troféu.
Precisamos debater nas famílias e nos currículos das escolas, as teorias de gênero e mostrar que gênero é hierarquia e poder, nocivo e letal.
Por que não dizer aos meninos, desde a mais tenra idade, que sexo não é uma recompensa e que não precisa fazer as mulheres sentirem dor porque está doendo nele. Não precisa matá-las e não pode matá-las. Nós os meninos-homens não temos e nem nos foi dado esse “direito”.
Não alcançaremos o objetivo fim e nem aplacaremos a violência na mulher somente prendendo estupradores, agressores e feminicídios, porque no objetivo meio, estaremos sempre formando os “príncipes machões” nocivos e letais.
Repensar a nossa escola e a forma de educar são tarefas sociais de todos nós.
*Carlos Campelo Costa é professor
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