À frente da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) desde janeiro deste ano, Evaldo Lima ainda não viveu um período de trégua com parte da classe artística da Capital. O atraso no pagamento do Edital das Artes de 2016 é um dos embates mais desgastantes.
Mas há ainda queixas sobre a falta
de diálogo entre a pasta e os agentes culturais, o que teria, mais
recentemente, provocado a “tomada”, por parte dos artistas, de um dos
eventos mais importante do calendário cultural da Cidade, o Salão de
Abril. Sem o apoio da Prefeitura, eles resolveram realizar o Salão de
Abril “Sequestrado”, que até 20 de outubro ocupa vários espaços e
galerias de Fortaleza.
Em entrevista exclusiva, realizada na última sexta-feira, 29 de setembro, o secretário falou sobre esse e outros temas. Confira:
O POVO - O Salão de Abril foi “sequestrado” pelos artistas, segundo eles, diante de uma falta de ação ou de um interesse da Secultfor em relação à realização deste evento. O que impediu a Secretaria de se manifestar mais assertivamente sobre como e quando aconteceria a mostra?
Evaldo Lima - Esse é um ano difícil. O ano de 2017 é um ano de tormenta, de escassez orçamentária e de retração da economia. Nos últimos 30 anos, é o ano em que ocorreu o menor repasse federal pra Fortaleza. Isso traz implicações muito sérias, muito dramáticas, em todos os setores. O subfinanciamento da saúde, da educação, e da cultura também. Nós compreendemos que a cultura é um direito constitucional, com previsão expressa, enfim, mas é um período de dificuldades da economia. As atividades cuja marca são efemérides, como a marca Salão de Abril... Ficou difícil realizar o Salão de Abril em abril deste ano. Ficou difícil porque tivemos realmente dificuldades de orçamento. Tenho muito respeito, absoluta legitimidade em relação a mobilização dos artistas para a realização deste Salão. Não custa recordar que na sua origem, em 1943, ele era realizado por artistas. Ao passar o mês de abril, quando a gente percebeu esse movimento, eu pedi a uma interlocutora para fazer contato com uma das lideranças, porque era a vontade deste segmento a realização e era a nossa vontade. Nós poderíamos somar esses desejos pra realização de um belo Salão de Abril não obstante as dificuldades orçamentárias. Não houve uma resposta positiva em relação a isso. “Vamos fazer um salão sequestrado”.
Mas qual foi a proposta da Secultfor levou?
Era fazer juntos mesmo. Fazer juntos.
Dividindo de que forma?
Dividindo responsabilidades, pensando a curadoria, pensando o desenho. Mas não chegou a se concretizar essa proposta, não. Foi uma sondagem apenas. Mas sem problema. É absolutamente legítima essa construção. Nós reconhecemos, torcemos pra que seja um belo Salão de Abril, um salão sem os rigores estéticos de seleção. O Salão de Abril na sua tradição é uma curadoria exigente, 30 obras são selecionadas, enfim, todo aquele processo de ênfase à arte contemporânea. Desta feita, não. É um salão mais plural, mais democrático, um salão mais aberto. Que eu acredito que também é um anseio da Cidade.
A prefeitura deu por encerrada qualquer possibilidade de realização do Salão de abril “oficial” este ano?
Eu acredito que o Salão de Abril já está sendo realizado este ano. É legítimo e está sendo realizado. Pelos artistas e sem o apoio da Prefeitura, ponto. Nós reconhecemos a legitimidade e torcemos pra que seja um belo Salão de Abril sem essas amarras, repito, essas amarras estéticas, sem essas dificuldades da natureza da própria gestão pública. O que nós pretendemos fazer: eu avalio que realizar um Salão de Abril neste ano, quando já houve um movimento de realização de um “sequestrado”, seria um confronto que não nos interessa. O Salão de Abril está sendo realizado. Está sendo realizado pelos artistas. Então, não iria contribuir. A história do Salão de Abril é repleta dessas contradições, dessas pluralidades, dessas divergências. Isso é intrínseco ao próprio evento. Então, pra não realizar um salão concorrente ao “Sequestrado”, a nossa ideia é, em dezembro, realizar uma mostra retrospectiva do Salão de Abril. Nós temos um grande acervo de todos esses anos do Salão de Abril - num período pretérito, as obras que eram vencedoras do Salão de abril eram incorporadas ao acervo da Prefeitura, então a gente tem um acervo extraordinário. Estamos recuperando boa parte deste acervo. Uma das diretrizes é a recuperação do acervo de artes plásticas da Cidade, e vamos fazer uma retrospectiva do Salão de Abril e vamos anunciar um grande Salão de Abril, a edição especial de 75 anos, em homenagem também ao centenário de Zenon Barreto, próximo ano.
Em abril?
A ideia é abrir o salão no dia 13. Porque a ideia do Salão é o aniversário da Cidade. E quase nunca aconteceu, né, ao longo desses anos todos....
É, e por isso eu perguntei se ainda havia possibilidade de ainda acontecer este ano.
Fazer um salão este ano é concorrer com um salão que tem a marca da emancipação, da rebeldia, da subversão, que é intrínseco ao Salão. A pluralidade, a riqueza, as contradições do Salão de Abril. Então a nossa ideia é fazer a mostra retrospectiva e nessa mostra anunciar o Salão de Abril a ser aberto no dia 13 de abril de 2018, em homenagem ao centenário de Zenon Barreto.
O desafio é grande, né?
É, o desafio é grande e a gente está trabalhando desde já pra isso.
Como você faz uma autoavaliação da sua gestão? Como analisa o posicionamento que você tinha antes e que tem agora, enquanto gestor, lidando de fato com restrições orçamentárias, com a crítica das pessoas?
Eu acredito numa sociedade fraturada, num estado de exceção, em que há uma vertigem da informação, em que as pessoas passam umas pelas outras e não se reconhecem, em que precisamos de gestos de generosidade e afeto. O campo da cultura tem um papel extraordinário no sentido de construir uma cidade mais generosa, mais justa, mais acolhedora. Somente a cultura pode dar respostas às angústias dessa vertigem da intolerância. Como historiador, o cenário que eu vejo no País nesse instante é algo que remonta a ovo de serpente, a períodos muito graves da sociedade brasileira. É o que angustia muito. Eu acho que a cultura pode responder a isto. Num cenário de dificuldade, o insumo fundamental da cultura é a criatividade, é a sensibilidade, é a inteligência. Apesar de inúmeras dificuldades, (estar da Secultfor) é uma experiência muito generosa, de convivência, de afeto, de conhecimento e reconhecimento da Cidade. E a gente tem contribuído com esse diálogo pra construção de uma Cidade mais generosa, não obstante o enfrentamento que permanece e faz parte da natureza da própria cidade.
Historicamente o campo da cultura é um campo difícil que exige muito diálogo, muito respeito, muita tolerância. Eu tenho procurado fazer isso nos fóruns adequados. Dialogando com os múltiplos atores do movimento cultural de Fortaleza.
Em entrevista exclusiva, realizada na última sexta-feira, 29 de setembro, o secretário falou sobre esse e outros temas. Confira:
O POVO - O Salão de Abril foi “sequestrado” pelos artistas, segundo eles, diante de uma falta de ação ou de um interesse da Secultfor em relação à realização deste evento. O que impediu a Secretaria de se manifestar mais assertivamente sobre como e quando aconteceria a mostra?
Evaldo Lima - Esse é um ano difícil. O ano de 2017 é um ano de tormenta, de escassez orçamentária e de retração da economia. Nos últimos 30 anos, é o ano em que ocorreu o menor repasse federal pra Fortaleza. Isso traz implicações muito sérias, muito dramáticas, em todos os setores. O subfinanciamento da saúde, da educação, e da cultura também. Nós compreendemos que a cultura é um direito constitucional, com previsão expressa, enfim, mas é um período de dificuldades da economia. As atividades cuja marca são efemérides, como a marca Salão de Abril... Ficou difícil realizar o Salão de Abril em abril deste ano. Ficou difícil porque tivemos realmente dificuldades de orçamento. Tenho muito respeito, absoluta legitimidade em relação a mobilização dos artistas para a realização deste Salão. Não custa recordar que na sua origem, em 1943, ele era realizado por artistas. Ao passar o mês de abril, quando a gente percebeu esse movimento, eu pedi a uma interlocutora para fazer contato com uma das lideranças, porque era a vontade deste segmento a realização e era a nossa vontade. Nós poderíamos somar esses desejos pra realização de um belo Salão de Abril não obstante as dificuldades orçamentárias. Não houve uma resposta positiva em relação a isso. “Vamos fazer um salão sequestrado”.
Mas qual foi a proposta da Secultfor levou?
Era fazer juntos mesmo. Fazer juntos.
Dividindo de que forma?
Dividindo responsabilidades, pensando a curadoria, pensando o desenho. Mas não chegou a se concretizar essa proposta, não. Foi uma sondagem apenas. Mas sem problema. É absolutamente legítima essa construção. Nós reconhecemos, torcemos pra que seja um belo Salão de Abril, um salão sem os rigores estéticos de seleção. O Salão de Abril na sua tradição é uma curadoria exigente, 30 obras são selecionadas, enfim, todo aquele processo de ênfase à arte contemporânea. Desta feita, não. É um salão mais plural, mais democrático, um salão mais aberto. Que eu acredito que também é um anseio da Cidade.
A prefeitura deu por encerrada qualquer possibilidade de realização do Salão de abril “oficial” este ano?
Eu acredito que o Salão de Abril já está sendo realizado este ano. É legítimo e está sendo realizado. Pelos artistas e sem o apoio da Prefeitura, ponto. Nós reconhecemos a legitimidade e torcemos pra que seja um belo Salão de Abril sem essas amarras, repito, essas amarras estéticas, sem essas dificuldades da natureza da própria gestão pública. O que nós pretendemos fazer: eu avalio que realizar um Salão de Abril neste ano, quando já houve um movimento de realização de um “sequestrado”, seria um confronto que não nos interessa. O Salão de Abril está sendo realizado. Está sendo realizado pelos artistas. Então, não iria contribuir. A história do Salão de Abril é repleta dessas contradições, dessas pluralidades, dessas divergências. Isso é intrínseco ao próprio evento. Então, pra não realizar um salão concorrente ao “Sequestrado”, a nossa ideia é, em dezembro, realizar uma mostra retrospectiva do Salão de Abril. Nós temos um grande acervo de todos esses anos do Salão de Abril - num período pretérito, as obras que eram vencedoras do Salão de abril eram incorporadas ao acervo da Prefeitura, então a gente tem um acervo extraordinário. Estamos recuperando boa parte deste acervo. Uma das diretrizes é a recuperação do acervo de artes plásticas da Cidade, e vamos fazer uma retrospectiva do Salão de Abril e vamos anunciar um grande Salão de Abril, a edição especial de 75 anos, em homenagem também ao centenário de Zenon Barreto, próximo ano.
Em abril?
A ideia é abrir o salão no dia 13. Porque a ideia do Salão é o aniversário da Cidade. E quase nunca aconteceu, né, ao longo desses anos todos....
É, e por isso eu perguntei se ainda havia possibilidade de ainda acontecer este ano.
Fazer um salão este ano é concorrer com um salão que tem a marca da emancipação, da rebeldia, da subversão, que é intrínseco ao Salão. A pluralidade, a riqueza, as contradições do Salão de Abril. Então a nossa ideia é fazer a mostra retrospectiva e nessa mostra anunciar o Salão de Abril a ser aberto no dia 13 de abril de 2018, em homenagem ao centenário de Zenon Barreto.
O desafio é grande, né?
É, o desafio é grande e a gente está trabalhando desde já pra isso.
Como você faz uma autoavaliação da sua gestão? Como analisa o posicionamento que você tinha antes e que tem agora, enquanto gestor, lidando de fato com restrições orçamentárias, com a crítica das pessoas?
Eu acredito numa sociedade fraturada, num estado de exceção, em que há uma vertigem da informação, em que as pessoas passam umas pelas outras e não se reconhecem, em que precisamos de gestos de generosidade e afeto. O campo da cultura tem um papel extraordinário no sentido de construir uma cidade mais generosa, mais justa, mais acolhedora. Somente a cultura pode dar respostas às angústias dessa vertigem da intolerância. Como historiador, o cenário que eu vejo no País nesse instante é algo que remonta a ovo de serpente, a períodos muito graves da sociedade brasileira. É o que angustia muito. Eu acho que a cultura pode responder a isto. Num cenário de dificuldade, o insumo fundamental da cultura é a criatividade, é a sensibilidade, é a inteligência. Apesar de inúmeras dificuldades, (estar da Secultfor) é uma experiência muito generosa, de convivência, de afeto, de conhecimento e reconhecimento da Cidade. E a gente tem contribuído com esse diálogo pra construção de uma Cidade mais generosa, não obstante o enfrentamento que permanece e faz parte da natureza da própria cidade.
Historicamente o campo da cultura é um campo difícil que exige muito diálogo, muito respeito, muita tolerância. Eu tenho procurado fazer isso nos fóruns adequados. Dialogando com os múltiplos atores do movimento cultural de Fortaleza.
Fonte: O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário