A cobertura para realização do exame devia atingir 70% das mulheres saudáveis acima de 40 anos
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04.10.2017
por Karine Zaranza - Repórter
Vencer o medo do câncer de mama é a primeira batalha que as mulheres
precisam empreender no Brasil. O tabu que envolve a doença que mais mata
brasileiras faz com que o diagnóstico precoce não aconteça para mais da
metade das pacientes. No Ceará, conforme o mastologista do Instituto do
Câncer do Ceará (ICC), Ércio Ferreira Gomes, a cobertura de mamografia
devia atingir 70% das mulheres saudáveis acima de 40 anos. No entanto,
apenas 25% realiza o principal exame de diagnóstico dessa enfermidade.
"O mais preocupante hoje é que ainda há um medo. Ainda há esse tabu que
o câncer é um sentença de morte. Ainda há aquela cultura de 'quem
procura acha'. Diagnosticar precocemente é salvar vida, é se curar. Não é
fácil passar esse conceito de cura", aponta o médico que afirma que é
preciso conscientizar também os profissionais de saúde.
O mastologista aponta que, apesar do aumento dos mamógrafos e da
descentralização dos equipamentos no Estado, os médicos dos postos de
saúde e do Programa Saúde da Família (PSF) não estão prescrevendo o
exame como deveriam. "Hoje não temos problema de acesso. Temos as
policlínicas com mamógrafos. A maior parte está concentrada na Capital.
Mas, na verdade, os aparelhos estão funcionando bem abaixo de sua
capacidade. O que acontece é que nem o médico nem a mulher pede",
critica.
A incidência da patologia vem crescendo no País entre 5% e 10% nos
últimos 10 anos, resultado do aumento progressivo da expectativa de vida
do brasileiros e de um somatório de fatores. "A mulher tem atrasado
bastante a maternidade e esse é um fato. Só 34% da população pratica
alguma atividade física e o sedentarismo contribui para o aparecimento.
Cerca de 53% das nossas mulheres estão com sobrepeso ou obesas. Além de
fatores ambientes, como radiação, inclusive do celular, produtos
agrotóxicos, químico, estresse", aponta o médico.
Progressão
De acordo com levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em
2017, serão 57.960 novos casos no Brasil. No Ceará, essa soma chega
a 2.160 e, na Capital, o número de novos diagnósticos é de 860.
Esses dados mostram também um aumento dos casos mais graves. "Temos
curvas crescentes de incidência e de mortalidade. Temos dados do ICC que
mostram que 50% dos casos hoje são no estágio 3 e 4. Ou seja, em nível
grave. O ideal seria encontrar em estágio 1, com menos chance de
mortalidade", explica Ércio.
Outra característica que vem aparecendo é a incidência de câncer de
mama em mulheres jovens. Como o indicado é se fazer a mamografia só após
os 40 anos, é comum identificar o problema em estágios mais avançados, o
que causa uma chance de cura menor. Quem reverteu essas expectativas
foi a técnica em segurança do trabalho, Virgínia Maia, 45 anos. Ela
descobriu, após o autoexame de mamas, um câncer de mama aos 29 anos.
Hoje, 16 anos após a mastectomia, ela comemora a cura.
Virgínia alerta que é preciso enfrentar o "fantasma do câncer" de
frente e sem medo. "Se você faz acompanhamento, o dano será menor. Eu
tive com 29. Uma amiga teve com 24. Não tem isso de idade. A gente só
escuta falar da prevenção em outubro. É preciso falar o ano todo. É um
câncer que mata. E essa morte não é literal. As vezes mata porque
destrói você".
Desde o diagnóstico até o tratamento e cirurgia de reparação, com
implante de prótese de silicone, tudo foi feito pelo Sistema Único de
Saúde. Virgínia diz que, quando chegou ao ICC, entrou no paraíso. "Fiz 6
sessões de quimioterapia, 28 de radioterapia e 5 anos hormonioterapia",
elenca. Hoje, ela olha com cuidado a filha Mel, 21 anos. "De seis em
seis meses ela faz prevenção, e anualmente faz ultrassom de mama". Não
pode deixar espaço para o câncer.
Fonte: Diário do Nordeste
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