O presidente dos EUA quer, ilegalmente, adiar a eleição presidencial de novembro. Para o Partido Comunista dos EUA é a preparação de um golpe e põe a democracia em risco
Publicado 01/08/2020 12:53 | Editado 01/08/2020 12:56
O presidente dos EUA, Donald Trump, propôs na manhã da quinta-feira (30), pelo Twitter, que seja adiada a eleição presidencial, marcada para 3 de novembro (tradicionalmente a eleição presidencial nos EUA ocorre na primeira terça-feira de novembro). A proposta causou alarme nos setores democráticos do país.
O diário inglês “The Guardian”, de grande penetração nos EUA, qualificou a proposta como “incendiária”. Na mensagem, Trump alegou, sem evidências, que “a votação universal por correio” levaria à “eleição mais imprecisa e fraudulenta da história”.
Trump fez sua proposta 15 minutos após a divulgação do desastroso resultado do PIB – queda de 32,9% entre abril e junho – registrou o comentarista C.J. Atkins, no “People’s World”, jornal ligado ao Partido Comunista dos EUA). Além do desastre na economia, a proposta incendiária de Trump reflete não só a crise do coronavirus, mas também a péssima administração da economia e sua irresponsável conduta para enfrentar a pandemia, quando o número de afetados ultrapassa 2,5 milhões de pessoas, e supera 200 mil mortes – e, pior, números que se mantém crescentes. Outro fator importante na conjuntura dos EUA é o uso de forças federais, em Portland (Oregon) para reprimir protestos de massa contra o racismo e a violência policial, que se repetem desde o assassinato, em maio, por um policial branco, do negro George Floyd, na cidade de Minneapolis.
Mesmo em quarentena, a campanha eleitoral continua e as pesquisas de opinião mostram uma vantagem substantiva para Joe Biden, o candidato democrata, que sinaliza uma grande vitória contra Trump, que disputa a reeleição. Biden já aparece, na intenção de voto popular, com mais de 14 pontos percentuais à frente de Trump – com mais de 50% das intensões de voto, enquanto Trump se mantém em torno de 30%. Lá, o voto para presidente não é direto – os eleitores votam no partido (os maiores são o Democrata e o Republicano), para formar o colégio eleitoral que escolhe o presidente. Daí porque um candidato pode ter mais votos populares, mas se não tiver a maioria dos delegados, pode perder a eleição no colégio eleitoral. Mas, neste ano, tudo indica que Joe Biden poderá ter vantagem no voto popular e no colégio eleitoral. Daí a reação de Trump, no sentido de tentar manipular a eleição para eventualmente manter o poder.
O alarme provocado entre os setores democráticos, registrado pelo comentarista C.J. Atkins , no “People’s World”, decorre da compreensão de que, com sua atitude, Trump estaria preparando um golpe de Estado – sua proposta faria parte de uma estratégia para desmoralizar a eleição e permitir a ele não aceitar uma eventual derrota no voto, como fraudulenta – um pretexto para não aceitar o resultado.
As reações contra a proposta de Trump foram múltiplas. O historiador Michael Beschloss, por exemplo, ouvido pelo Guardian, esclareceu que “nunca na história dos EUA – nem mesmo na Guerra Civil e na Segunda Guerra Mundial – houve uma mudança bem-sucedida” de adiar a eleição presidencial.
No Congresso, mesmo os republicanos se distanciaram da proposta de Trump. O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, disse que a data da eleição é “imutável”. O senador Marco Rubio disse: “Eu gostaria que ele não tivesse dito isso, mas não vai mudar: vamos ter uma eleição em novembro”. Lindsey Graham, normalmente apoiador de Trump, disse não achar que o tweet de Trump sobre a eleição fosse “uma ideia particularmente boa”. Mesmo o secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, aparentemente pôs-se à margem da proposta de Trump. Ele comparecia perante o comitê de relações exteriores do Senado no momento em que o tuíte de Trump foi publicado, e tentou evitar perguntas sobre se o presidente tinha autoridade para adiar a eleição. “Não vou entrar com um julgamento legal em tempo real”, disse Pompeo. “O departamento de Justiça e outros farão essa determinação legal.”
O alarme foi registrado na manchete de “People’s World”, da edição do dia 30, onde diz: “A proposta de Trump para adiar a eleição é o ato preparatório de um golpe”, e acusou: “Trata-se de um ataque frontal à democracia americana”. E apela: o golpe deve ser barrado “por uma votação esmagadora contra o Partido Republicano” em 3 de novembro. Segundo o jornalista C.J. Atkins, a alegação de Trump, de que o voto pelo correio pode gerar fraude (embora não existam evidências disso) “é outra parte do esquema do Partido Republicano para reduzir o número de pessoas que votam – especialmente entre comunidades de cor, imigrantes e jovens.” E continua: “Trump e sua cabala planejam vários cenários para manter o poder, quer ele ganhe ou não”. Se houver “uma pequena margem, seja a favor de Trump ou a de Biden, Trump pode se declarar vencedor”, com amplo apoio da mídia de direita.
E apela aos eleitores para votarem em massa, em 3 de novembro: “democracia dos EUA será defendida e os dias do possível ditador na Casa Branca estarão contados.”
Com informações de “People’s World” e “The Guardian”
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