Para fazer frente à queda, drástica em muitas situações, do faturamento, do aumento da inadimplência e outras dificuldades que a pandemia vem impondo à economia, as empresas precisam em muitos casos, desesperadamente, de crédito para cobrir os déficits de caixa que a realidade está impondo.
Para fazer frente a essa necessidade de milhões de micro e pequenas empresas, responsáveis por sua vez por milhões de empregos, elas têm apenas duas possibilidades para sobreviver.
O socorro do Estado, compatível com a dimensão da crise sanitária, social e econômica que atravessamos, que não aconteceu até agora. Recursos a fundo perdido, juros na ponta no patamar da Selic, aval do Tesouro.
O marketing do governo acenou com paliativos, inclusive uma linha de crédito especial com “aporte” de R$ 40 bilhões, mas a realidade está estampada na queixa dos empresários.
A outra possibilidade é o financiamento direto pelo sistema financeiro. Agraciados com uma injeção de liquidez liberada pelo governo na quantia de R$ 1,3 trilhão logo no início da mega crise, os bancos aumentaram os juros, recrudesceram as exigências para o crédito e agravaram o papel parasitário que vêm exercendo na economia.
Uma terceira alternativa é excepcional. Pequeno contingente de empresas têm capital próprio para enfrentar esse tsunami que a todos afeta, inclusive porque com cinco anos entre recessão e estagnação enfraqueceram-se todas, mesmo as mais sólidas.
Não se trata de nenhuma receita de bolo, todas estão ou estariam, se não quebrarem antes, absorvendo as perdas do presente, apostando no futuro, para lá na frente conseguirem se manter e pagar as dívidas que tiverem que contrair.
Um micro empresário, fornecedor deste jornal Hora do Povo, trouxe um depoimento que ilustra o que escrevemos acima.
Conforme consulta que fez junto ao gerente de banco com quem tem melhor relacionamento comercial, obteve as seguintes condições para o empréstimo que vai precisar fazer para aguentar o “tranco” dos próximos meses.
A linha de crédito, que deveria ser a mais favorecida, resultante de um convênio com o Sebrae, tem um custo efetivo, que é o custo da taxas de juros mais custas de cadastro e dos três meses de carência, sem contar o IOF que o governo isentou, de 1,57% ao mês.
Nada mesmo do que um custo de capital na ordem de 20,5% ao ano. Qual empresa, mesmo micro, que tem um retorno do capital na ordem 20,5% ao ano? Nenhuma.
Ou seja, a contratação de empréstimo nessas condições representa “ao final e ao cabo” uma erosão do capital próprio do negócio.
O banco não se satisfaz em ter um lucro sobre o capital emprestado. Ele empresta apenas se puder se tornar o “sócio majoritário” da empresa do necessitado, durante a vigência do empréstimo.
Ocorre que nosso colaborador dispõe, como já dispunha antes da crise sanitária, de uma linha de crédito pré-aprovada nas mesmas condições daquela oferecida pela pseudo linha especial para o enfrentamento da crise.
Ainda, para confirmar o cheque especial que a empresa possui, continuará disponível a taxa de 4,5% ao ano.
Ainda que a necessidade leve nosso amigo a fazer um empréstimo nas condições colocadas, fica patente que o ônus da crise que seus negócios estão tendo, vai sendo colocado integralmente nas costas desses empreendedores.
Da mesma forma como se vê recair nas costas dos trabalhadores e desempregados a perda dos empregos e da renda, mal compensados por R$ 600, que milhões não conseguem receber, e que desnudaram o abismo das condições de renda no Brasil.
O rol das micro e pequenas empresas está à deriva.
J.AMARO
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