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sábado, 24 de agosto de 2019

PCdoB do Maranhão promove curso de formação política

 

  
O diretório estadual do Partido Comunista do Brasil no Maranhão promove um Curso de Formação Política nos dias 23, 24 e 25 de agosto, em São Luís.

Segundo Jorge Antonio Carvalho, Encarregado de Políticas de Quadros do PCdoB do Maranhão, “a realização do curso busca atender a necessidade de formação dos militantes comunistas e, nesse primeiro momento, será destinado a representantes de cidades com mais de 100 mil habitantes e municípios polos”.

Entre os palestrantes estão o deputado federal Márcio Jerry, presidente estadual da sigla, Nádia Campeão, ex-vice-prefeita da cidade de São Paulo e atual Secretaria Nacional de Relações Institucionais e Políticas Públicas do PCdoB, os professores Cristiano Capovilla, Fábio Palácio, Marcos Emílio Geraldo Castro, além de Júlio Veloso, Secretário Nacional de Formação do partido.

Ato ao lado da Reitoria da UFC protesta contra novo reitor

O presidente Bolsonaro nomeou o novo reitor da UFC nesta segunda-feira, 19, o professor Cândido Albuquerque. Membro da Faculdade de Direito, Cândido ficou em último lugar na consulta para reitor e na lista tríplice. Estudantes, docentes, servidoras e servidores protestaram nesta terça, 20, contra a nomeação do "interventor".

Estudantes, docentes, servidoras e servidores proteatam contra novo reitor da UFC, bloqueando o cruzamento da Av. da Universidade com Av. 13 de Maio.Estudantes, docentes, servidoras e servidores proteatam contra novo reitor da UFC, bloqueando o cruzamento da Av. da Universidade com Av. 13 de Maio.
Um ato foi realizado na noite desta terça-feira, 20, ao lado da Reitoria da UFC, no cruzamento das Avenidas da Universidade e 13 de Maio, contra a nomeação do novo reitor da UFC, Cândido Albuquerque, já chamado de "interventor" pela Comunidade Acadêmica da UFC.
 
Organizado por estudantes, docentes, servidoras e servidores, o ato teve início por volta das 18:30 h, com o bloqueio do cruzamento das duas avenidas que ladeiam a Reitoria da UFC. A manifestação se posicionou contrária à nomeação de Cândido Albuquerque para reitor, por ele ter sido o menos votado na Consulta para Reitor, ocorrida em 08 de maio deste ano, e ter ficado em último lugar na Lista Tríplice do Conselho Universitário (CONSUNI), eleita em 27 de junho, e encaminhada ao Ministério da Educação (MEC). As entidades organizadoras não divulgaram as próximas ações.
 
O MEC confirmou a posse de Cândido Albuquerque para às 18 horas desta quinta-feira, 22 de agosto. 
 
A diretora da UNE no Ceará, Quézia Gomes, destacou a importância da autonomia universitária. "A universidade federal não teve sua autonomia respeitada. Bolsonaro não está preocupado com o desenvolvimento da UFC, pois nomeou um interventor em vez de um reitor, para comprometer a autonomia universitária e a democracia."

"Foi um momento ímpar, como estudante da UFC fiquei muito emocionado durante todo o ato. Mostramos nitidamente a toda a sociedade cearense que a comunidade acadêmica não aceitará os desmandos de Bolsonaro em nossa instituição", afirmou Jobson Cavalcante, estudante do 6° semestre de Gestão de Políticas Públicas e Secretário Geral do centro acadêmico.


De Fortaleza, Andrea Oliveira
Colaborou Silvinha Cavalleire

Ato marca filiações de profissionais da Educação ao PCdoB

 

  
Um grande ato de acolhimento aos novos filiados do PCdoB aconteceu na manhã desta sexta-feira, 23, no auditório Murilo Aguiar, da Assembleia Legislativa. Mais de 20 profissionais do setor da Educação filiaram-se ao PCdoB e a partir de agora integram as fileiras do partido no Ceará, entre eles, o presidente da APEOC, Anízio Melo, e vários diretores da entidade.
Em todas as falas, a importância das filiações, críticas a Reforma da Previdência e ao governo federal, que ataca o Estado Nacional, promove cortes no orçamento da educação, investindo contra as conquistas dos trabalhadores e a democracia brasileira.
 
Estavam presentes, o presidente estadual do partido, Luiz Carlos Paes, o representante da Executiva Nacional, Nivaldo Santana, o secretário da Secitece Inácio Arruda, o ex deputado Chico Lopes, o presidente da UBES Pedro Górki, os deputados estaduais Augusta Brito e Carlos Felipe, o vereador de Fortaleza Evaldo Lima, o secretário municipal de cultura Gilvan Paiva, o presidente estadual da CTB Luciano Simplício, a diretora da executiva da UNE Liz Filardi, o dirigente da CNTE e Presidente do Sindicato dos Professores da Bahia Rui Oliveira, entidades estudantis e de juventude, entre elas a ACES, UNEFORT, a JPL e a UJS,  dirigentes sindicais do Seeaconce, Sindicato dos Bancários, SindSaúde, Sintracondce, Sindetran,Sindcam e de representantes de sindicatos de professores do Maranhão, Bahia, Paraíba e Amazonas, além de diversos dirigentes do PCdoB no Ceará.
 
Em seu discurso, o professor e Presidente da APEOC Anízio Melo,  afirmou ter sido essa uma decisão pensando e analisada por bastante tempo e relatou sua convicção de estar entrando no PCdoB num momento de intensificação da luta em defesa da educação e de saber ser esse um partido de grande compromisso com o povo brasileiro. 
 
O ato marcou também a filiação ao PCdoB de jovens secundaristas presentes ao evento. 


De Fortaleza, Andrea Oliveira
Colaborou Emília Augusta

Protestos pró-Amazônia mandam recado a Bolsonaro; veja fotos

Manifestações em diversas cidades do Brasil e do mundo deram a largada, nesta sexta-feira (23), para uma expressiva onda internacional de repúdio à política do governo Jair Bolsonaro (PSL) para o meio ambiente. A mobilização para os protestos – já esperada diante dos últimos registros de queimadas e desmatamento na Amazônia brasileira – ganhou mais força com as desastradas e irresponsáveis declarações do presidente após a repercussão do caso.

Mais de 5 mil manifestantes foram às ruas do Rio; protestos desta sexta-feira (23) ocorreram em dezenas de pontos do Brasil e do mundo Mais de 5 mil manifestantes foram às ruas do Rio; protestos desta sexta-feira (23) ocorreram em dezenas de pontos do Brasil e do mundo 
No Brasil, a maioria dos atos pediu o fim das investidas predatórias contra a região amazônica e a demissão do ministro ultraliberal do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do Partido Novo. “Amazônia, sim. Ele, não” foi um dos gritos de guerra. Gritos e cartazes pedindo o “Fora, Bolsonaro” também proliferaram, num contundente recado ao presidente.

Salvador (BA)

São Paulo (SP)

Brasília (DF)
 
À tarde, nas ruas de Salvador, houve marcha da Praça Municipal, no centro histórico, à Praça do Campo Grande, com destaque para a participação de lideranças ambientalistas. Já no começo da noite, o protesto em São Paulo tomou o trecho da Avenida Paulista em frente ao Masp, reunindo milhares de pessoas. Não houve incidentes, apesar do policiamento ostensivo. A Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro (RJ), foi o ponto de concentração dos mais de 5 mil manifestantes cariocas, que saíram em caminhada pela Avenida 13 de Maio.
 
Uma passeata da rodoviária do Plano Piloto até a Esplanada dos Ministérios, em direção ao Ministério do Meio Ambiente, marcou a manifestação pacífica em Brasília. Em Goiânia (GO), no entanto, houve repressão. A polícia agrediu estudantes e usou até spray de pimenta no ato em frente à sede do governo estadual.

Amsterdã

Barcelona



Berlim

Lisboa
 
No Exterior, os alvos preferenciais dos manifestantes foram as embaixadas e os consulados brasileiras. Houve atos em Amsterdã (Holanda), Barcelona e Madri (Espanha), Berlim (Alemanha), Berna e Genebra (Suíça), Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Cidade do México (México), Dublin (Irlanda), Lima (Peru), Lisboa (Portugal), Londres (Inglaterra), Mumbai (Índia), Nápoles (Itália), Oslo (Noruega), Quito (Equador), Nova York (EUA) e Paris (França), além de Luxemburgo.

Londres

Madri

Paris






Da Redação, com agências

As crianças de Fossoli, por Paulo Nogueira Batista Jr.

Impressionou-me, leitor ou leitora, ensaio publicado recentemente, no caderno de cultura da Folha de S.Paulo, pelo cientista político Renato Lessa sobre um escritor célebre, mas que eu desconhecia – Primo Levi, judeu italiano que sobreviveu a Auschwitz e ajudou a consagrar um novo gênero literário: a literatura de testemunho, o relato dos sobreviventes à experiência do horror. Comecei a ler alguns dos seus livros, inclusive os poemas.

  
Os escritos enraizados em vivências sempre têm mais peso e apelo emocional. Isso vale, também, para as obras de arte em geral e, por isso, talvez se possa dizer que a realidade é a forma mais perfeita de ficção. O escritor, o artista em geral não precisam, a rigor, inventar nada – apenas recuperar lembranças e lançar luz sobre a experiência vivida.

Não é o que fazem os grandes escritores, os grandes artistas? Não inventam, nem fabricam propriamente. Procuram ancorar-se na realidade que viveram diretamente, que sentiram na própria carne, por assim dizer – ainda que as obras não sejam estritamente autobiográficas, como são as de Levi. Esse processo de elaboração foi retratado de forma maravilhosamente vívida no último filme de Pedro Almodóvar, Dor e Glória. Espero que o leitor ou leitora tenha visto o filme, que trata das dores e dos abismos do processo criativo e constitui, segundo Almodóvar, o seu projeto mais pessoal.

Quando assisti Dor e Glória, lembrei-me imediatamente de um episódio do fim da vida de Dostoiévski, contado por Dmitri Merejkóvski, um dos mais importantes romancistas e críticos russos do século passado. Com quinze anos, ele começara a escrever poemas, e seu pai, ao encontrar Dostoiévski por acaso em um jantar, teve a suprema ousadia de pedir uma opinião sobre os escritos do filho. Em fragmento autobiográfico, Merejkóvki relembrou a visita ao apartamento minúsculo do romancista, a sala de estar apertada, cheia de exemplares de Os Irmãos Karamázov, o escritório também apertado, em que ele estava sentado corrigindo provas tipográficas. Constrangido, gaguejando, o rapaz leu seus versos infantis. Dostoiévski ouviu em silêncio, visivelmente aborrecido. “Fraco, ruim, não vale nada”, disse ele, por fim. E soltou a frase que se tornaria famosa: “Para escrever bem, é preciso sofrer, sofrer!” Interessante, também, foi a resposta protetora do pai: “Que não escreva melhor então; não quero que sofra”.

No ensaio de Renato Lessa, tocaram-me em especial as referências aos textos de Levi sobre o campo de concentração de Fossoli, aldeia perto de Carpi onde se fazia a triagem dos prisioneiros destinados à deportação. Levi relata como as mães cuidavam dos filhos às vésperas do transporte final para Auschwitz, como elas preparavam com esmero as provisões para a viagem, davam banho, arrumavam suas malas e lavavam suas roupas. “Ao alvorecer”, lembra Levi, “o arame farpado estava cheio de roupinhas penduradas para secar”, imagem de impacto, observa Lessa, que tem altíssimo poder de retenção. E Levi prossegue: “Elas não esqueciam as fraldas, os brinquedos, os travesseiros, todas as pequenas coisas necessárias às crianças e que as mães conhecem tão bem”.

Ao transcrever essas frases, reencontrei a emoção que senti quando da primeira leitura. Posso cometer, leitor/leitora, a suprema ousadia, comparável à do pai de Merejkóvski, de dizer que me identifiquei com as crianças de Fossoli? É que o relato de Levi me jogou de volta para momentos da minha própria infância. Meu pai era diplomata e ficava, infelizmente, pouco tempo em cada posto. Quase nunca morávamos mais de dois anos na mesma cidade. Meus irmãos e eu éramos seguidamente “deportados” para outra cidade, outro país, outra língua. Nosso pequeno mundo vinha abaixo de repente e lá íamos nós, transportados, às vezes no meio do ano letivo, para nova escola, em novo país e para um idioma que não sabíamos. Era terrível. A cada mudança, porém, nossa mãe tinha o cuidado de colocar todos os nossos brinquedos, livros, revistinhas, apetrechos diversos, até fiapos de coisas, num grande baú azul claro. Quando a mudança chegava na nova casa, com que alegria abríamos o baú e reencontrávamos todos os nossos pequenos elos com a vida anterior! Os objetos têm uma força que não pode ser subestimada.

A representação do sofrimento intenso ressoa em nós de forma especialmente aguda quando remete, de alguma forma, a situações que todos nós vivemos, ainda que em escala muito menor. E assim se estabelece o elo entre os casos extremos, as grandes tragédias e a vida corriqueira, os dramas de que ninguém escapa.



*Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países.

Fonte: GGN


    Bolsonaro jogou gasolina na floresta

    "Em meio à balbúrdia, Bolsonaro e seu séquito se vestem de “nacionalistas”, brandindo um visto temporário para o mundo do anticolonialismo com o intuito de enganar incautos e fugir da essência do problema".

    Ilustração: Aroeira
      
     Existem, basicamente, dois fatores para se explicar a extensão das queimadas nas florestas brasileiras. Um é a sazonalidade, o ciclo da seca que nesta época do ano castiga a região. Outro é a atitude do presidente Jair Bolsonaro de tocar fogo nos instrumentos de preservação do meio ambiente, como a demissão intempestiva do presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, e sua birra com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

    No primeiro caso, além de lançar epítetos contra os críticos de suas atitudes sobre o meio ambiente, como foi o caso das organizações não governamentais (ONGs) que estariam promovendo um holocausto ambiental na Amazônia para "chamar atenção" contra o governo brasileiro, Bolsonaro alegou falta de recursos para combater o fogo. Finalmente, ele anunciou a inócua "tendência" de acionar tropas do Exército, o que ocorreria por meio de uma operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO), semelhante ao que foi feito por Michel Temer para tentar combater a violência no Rio de Janeiro. 

    No segundo caso, Bolsonaro faz ataques ao Ibama desde a campanha eleitoral. Segundo ele, a instituição conduz uma suposta “indústria da multa” e chegou ao detalhe reles de exonerar José Augusto Morelli do cargo de Chefe do Centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental como represália à multa que levou do servidor por pesca ilegal. O presidente já fez diversos ataques ao órgão fiscalizador e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e sufocou a atuação dos fiscais com um decreto para inviabilizar multas ambientais.

    No terceiro caso, a demissão do presidente do Inpe, Bolsonaro agiu com extrema irresponsabilidade ao destratar uma instituição que desfruta de alto prestígio na comunidade científica. Não é concebível que ele desconheça a seriedade dos dados produzidos pelo Inpe, como o monitoramento das fronteiras agrícolas na Amazônia e no Cerrado e da dinâmica do desmatamento. O Instituto tem prestígio internacional e sua equipe conta com funcionários altamente gabaritados.

    Ao mesmo tempo em que faz tudo isso, Bolsonaro se ajoelha perante o seu amo, o presidente norte-americano Donald Trump, prometendo fidelidade canina aos intentos do chefão da Casa Branca de tutelar a dinâmica econômica e política do Brasil de acordo com seus interesses geopolíticos. A consequência, além da carta branca para os incendiários florestais, é o pretexto para oportunistas que se julgam mais capazes do que os brasileiros para cuidar do meio ambiente meterem o bedelho em assuntos internos do país, como acaba de fazer o presidente francês Emmanuel Macron. 

    Em meio à balbúrdia, Bolsonaro e seu séquito se vestem de “nacionalistas”, brandindo um visto temporário para o mundo do anticolonialismo com o intuito de enganar incautos e fugir da essência do problema. A pantomima soa ridícula, algo parecido com performances de artistas de picadeiro. Essas performances lembram também a tragédia grega, quando o protagonista caminha consciente e célere em direção à própria ruína. Pode também ser comédia, com o protagonista atuando como o néscio de quem todos riem. Ou uma farsa, quando o protagonista é enganado. 

    Seja o que for, o certo é que a defesa da Amazônia exige seriedade e verdadeiro compromisso com os interesses nacionais. Ainda ressoa pelo país o slogan “A Amazônia é nossa”, um brado que se ergueu com força desde que a ditadura militar impôs sua lógica de que aquela imensidão verde poderia se transformar em uma ocupação desordenada, abrindo caminho para aventureiros de todo tipo – inclusive prepostos de interesses colonialistas. Com o bolsonarismo retomando essa lógica, agora com essas novas roupagens – o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, diz que a solução para a Amazônia é “monetizá-la”, abrindo áreas para o desenvolvimento comercial –, esse brado volta a ser um imperativo nacional.

    A floresta amazônica é o segundo maior bioma do mundo e se estende por nove países. Sua importância é inquestionável. No caso do Brasil, há, comprovadamente, a compatibilidade de se fazer a preservação no âmbito de um projeto nacional de desenvolvimento, uma das grandes vantagens locais no ambiente de competição na divisão de espaços da economia mundial. Sua defesa por um amplo conjunto de vozes e movimentos, que se espalha pelo mundo, fortalece a luta por uma Brasil soberano e democrático.

      Finlândia pede à União Europeia que deixe de comprar carne do Brasil

      A Finlândia, que assumiu a presidência da União Europeia no começo de julho, pediu nesta sexta-feira (23) ao bloco que estude a possibilidade de banir a importação de carne brasileira por causa dos incêndios na floresta amazônica.

      Foto: Divulgação | Nasa
      Imagens da Nasa mostram focos de queimadas na região amazônica.Imagens da Nasa mostram focos de queimadas na região amazônica.
      “A ministra das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição da floresta tropical e sugere que a UE e a Finlândia devem rever urgentemente a possibilidade de banir importações de carne do Brasil”, disse o governo finlandês.

      Por sua vez, a presidência do bloco, por meio da porta-voz Mina Andreeva, também se disse “preocupada com a situação”. “A Comissão está profundamente preocupada. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e contém um décimo das espécies mundiais. É por isso que saudamos as intenções do Presidente [francês] Macron em discutir esta questão na reunião do G7, dada a necessidade de se atuar rapidamente”

      Uma eventual aceitação do pedido se configuraria um novo revés na crise internacional causada pelos incêndios na Amazônia, que atinge diretamente o governo de Jair Bolsonaro.

      O presidente da França, Emmanuel Macron, foi o primeiro líder europeu a se manifestar e, após ter sugerido que o tema fosse discutido na reunião do G7 em Biarritz, neste final de semana, e chegar a ser chamado de “idiota” pelo filho do presidente Bolsonaro, Eduardo, acusou o mandatário brasileiro de mentir e se opôs ao acordo UE-Mercosul, fechado recentemente entre os blocos.

      Incêndios

      A Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) divulgou na noite desta quarta-feira (21/08) imagens de satélite que mostram uma nuvem de fumaça sobre os Estados de Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.

      Por sua vez, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontou um crescimento de 83% nas queimadas desde o início de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado.

      O Brasil está sob intensa pressão internacional por conta das queimadas na Amazônia. Esta época é, naturalmente, de incêndios na região, mas os dados mostram que eles estão acontecendo em números acima dos esperados.

      Sem provas, Bolsonaro chegou a dizer que ONGs poderiam estar causando os incêndios na região, o que não encontra base na realidade. 

      Fonte: Opera Mundi

        Incêndios na Amazônia: uma praga sazonal ''ampliada pelas posições de Bolsonaro''

        “Reze pela Amazônia”. Por várias semanas, os cidadãos estão se movendo pelas redes sociais por causa de incêndios florestais que estão devastando a região. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), as queimadas aumentaram 83% desde o início de 2019 em relação ao ano anterior. O desmatamento cresceu 67%. Um aumento ainda mais preocupante, já que este é um recorde desde 2013. 


        Por Laura Motet*, no Le Monde Francês

        Foto: Ueslei Marcelino / Reuters
        "Incendies en Amazonie: un fléau saisonnier 'amplifié par les prises de position de Jair Bolsonaro', destaca o jornal francês, Le Monde"Incendies en Amazonie: un fléau saisonnier 'amplifié par les prises de position de Jair Bolsonaro', destaca o jornal francês, Le Monde
        Para Catherine Aubertin, economista ambiental e diretora de pesquisa do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, esses incêndios podem "exacerbar de maneira duradoura os efeitos do aquecimento global".

        O aumento dos incêndios florestais e o desmatamento podem estar ligados à chegada de Jair Bolsonaro, altamente cético em relação ao clima?

        Todos os anos, o número de incêndios em terras aumenta em julho no Brasil. Isto não é uma coincidência: corresponde ao final da estação chuvosa. Este é o momento em que as áreas já trabalhadas pelo homem – especialmente para a manutenção de pastagens – são queimadas para tornar as florestas terras aráveis. O desmatamento é feito primeiro removendo a madeira e depois queimando a vegetação remanescente. Os incêndios também aumentaram drasticamente devido a uma seca muito significativa neste ano.

        Mas essa explicação "sazonal" é amplificada pelas posições do novo presidente brasileiro. Desde o início, Jair Bolsonaro disse que a Amazônia é um território improdutivo, formado por terras indígenas e unidades de conservação, que devem ser integradas à economia brasileira. Para fazer isso, ele colocou em prática o enfraquecimento de todo um sistema de instituições ambientais, acusando-as de serem "máquinas para distribuir multas”.

        Também reduziu o orçamento do Ibama, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, em quase 75% e dispensou 28 diretores regionais desta organização criada para punir crimes ambientais. O mesmo no Instituto Chico-Mendes (ICMbio), responsável pelo monitoramento e proteção da biodiversidade das unidades de conservação, como parques naturais. Ele demitiu em abril quase todo o pessoal da organização. Também demitiu Ricardo Galvão, presidente do INPE, equivalente da NASA, que desde 1988 desenvolve ferramentas de análise de satélites para avaliar o desmatamento e incêndios na Amazônia.

        A comunidade internacional tem algum meio de coação sobre Jair Bolsonaro?

        A comunidade internacional está tentando pressionar Brasília. Em julho, Emmanuel Macron disse que se o acordo climático de Paris não fosse respeitado no Brasil, ele não ratificaria o acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul (o mercado do cone sul que inclui vários países da América do Sul, incluindo o Brasil).

        Além disso, os países doadores do fundo de conservação da floresta amazônica estão bloqueando suas doações. Doações substanciais (30 milhões de euros da Noruega, 35 milhões de euros da Alemanha), que vão para ONGs ambientais, mas também em grande parte para as instituições ambientais do Estado brasileiro.

        Jair Bolsonaro, neste momento, finge que essas pressões não têm efeito sobre ele. Ele reagiu a esses bloqueios dizendo que não precisava de subsídios e que a comunidade internacional não tinha voz. "A Amazônia é nossa, não de vocês” , disse ele, repetindo a retórica dos militares dizendo que os países desenvolvidos querem internacionalizar a Amazônia. Ele também acusou ONGs ambientais de serem pagas por potências estrangeiras e de promoverem incêndios para atrair a atenção de financiadores estrangeiros, uma vez que cortou o fornecimento de alimentos.

        Note, no entanto: se a atenção da comunidade internacional está voltada para a Amazônia, território com forte carga simbólica no imaginário coletivo, não devemos esquecer todos os outros espaços do território brasileiros também afetados pelo desmatamento. Porque se hoje estamos alarmados que a Amazônia está desmatada em 20%, também devemos olhar para o caso do Cerrado, uma savana localizada no centro do Brasil, metade da qual já foi desmatada. Querendo proteger a Amazônia, especialmente ao se recusar a importar produtos (carne, soja, cereais ...) dessa região, nós na verdade participamos da mudança da produção para outros espaços como o Cerrado, cujo destino se move menos no exterior.

        As escolhas de Jair Bolsonaro a favor do desmatamento e queimadas provavelmente piorarão o aquecimento global?

        Sim. Há muito se pensava que o ponto crítico, o chamado processo de "savanização", seria alcançado quando 40% da Amazônia fosse desmatada. Hoje, percebemos que esse ponto já foi atingido, em 20%.

        De fato, o desmatamento e esses incêndios fazem parte de uma ruptura global do sistema climático. O desmatamento e o desmatamento por queimadas causam um aumento nas emissões de gases do efeito estufa: as árvores não estão mais lá para capturar a água do planeta no solo e evaporá-la para causar chuva. Esse tipo de problema já está sendo observado nas estações chuvosas posteriores e mais curtas na bacia do Prata, na Argentina e no sul do Brasil.

        Teme-se que essa mudança no regime de chuvas, ligada ao desmatamento e ao fogo, exacerbará os efeitos do aquecimento global, que por sua vez afetará a vegetação. A retroalimentação da vegetação e do clima ainda é pouco conhecida e é essa incerteza que torna esses incêndios ainda mais preocupantes.




        *Publicado originalmente no Le Monde | Tradução de Olimpio Cruz (Carta Maior)

          Política Nacional de Resíduos Sólidos é abandonada pelo governo

          Sancionada em agosto de 2010 pelo ex-presidente Lula, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) previa eliminar os lixões a céu aberto no país, aumentar os índices de reaproveitamento dos resíduos recicláveis e responsabilizar os grandes produtores de lixo. Nove anos depois, nenhuma das metas foi cumprida, e a situação do manejo do lixo no país segue precária. 



          Foto: Sérgio Lima/AFP
          Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, nos arredores de Brasília (DF).Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, nos arredores de Brasília (DF).
          Segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 40% das 71,6 milhões de toneladas de lixo geradas no país em 2017 foram destinadas a aterros controlados ou a um dos 3 mil lixões a céu aberto que ainda existem no Brasil – apesar da previsão legal de extingui-los ainda em 2014.

          Mesmo a capital que mais recicla seus resíduos, Florianópolis (SC), tem uma taxa de reaproveitamento de apenas 6%. Cidades como São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) têm taxas inferiores a 3%.

          “Se nós olhamos pelas alternativas que existem disponíveis, hoje fica muito difícil entender porque não caminhamos para avançar no manejo de resíduos sólidos nos 5.570 municípios brasileiros”, analisa a especialista Elisabeth Grimberg, coordenadora de resíduos sólidos do Instituto Polis. 

          Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe, defende que o tema “nunca foi prioridade do governo federal nesses nove anos”. Para ele, um exemplo emblemático é o fato de que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, previsto para até 180 dias após a promulgação da PNRS, nunca saiu do papel, emperrando a efetivação das metas da Lei. 

          “O Plano Nacional de Resíduos Sólidos não foi decretado. Muitos dos acordos setoriais não saíram do papel, e as ações de incentivo que a lei prevê sequer tiveram suas negociações iniciadas”, argumenta.

          O ambientalista e deputado federal Nilto Tatto (PT) defende a lei aprovada em 2010, em especial por conta do “grande debate na sociedade” que a precedeu. Ele relembra que “uma das ferramentas da Lei são os acordos setoriais, onde toda a cadeia de produção, distribuição, comercialização, e até o consumidor final, passando pelo poder público, teriam responsabilidades na destinação dos resíduos”. 

          Para Tatto, os esforços para implementação da Lei sofreram um revés após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016: “O Ministério do Meio Ambiente anuncia a destruição das políticas para o campo, dizendo que vai priorizar a pauta urbana, mas desde que Bolsonaro e [ministro Ricardo] Salles assumiram, a gente não viu nenhuma medida no sentido da implementação dessa política”. 

          Alternativas e viabilidade econômica

          Os especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato são unânimes ao apontar a responsabilização dos grandes geradores de lixo como uma das maneiras eficazes de solucionar a questão dos resíduos sólidos no país. O problema seria a indisposição do governo e a resistência das empresas em arcar com os custos de geração de seus resíduos. 

          “A Lei prevê a responsabilidade do setor privado, dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de custear a coleta seletiva dos recicláveis e do rejeito. E quem custearia a coleta seletiva dos orgânicos seriam as prefeituras”, diz Grimberg. 

          “Entretanto, no final de 2015, foi feito um acordo setorial entre o governo e o setor privado que desresponsabilizou as empresas da prestação deste serviço“, relembra ela. “Essas empresas, que no Brasil não assumem responsabilidade – como Coca-Cola, Danone, Nestlé, Unilever, etc – fazem isso na Europa”, lembra. 

          “Como qualquer outro serviço público, para se avançar na gestão de resíduos no Brasil, nós precisamos de um sistema de remuneração pelo usuário. Todos aqueles que fazem uso da limpeza urbana, todos aqueles que de alguma forma se valem desse serviço, tem que remunerar esse serviço na proporção que o adotam”, afirma o presidente da Abrelpe.

          “Isso já acontece em vários países, e nós precisamos dar esse passo aqui no Brasil. Se não a gente vai ficar mais cinco ou dez anos falando da Política Nacional de Resíduos Sólidos que não saiu do papel”, acrescenta. 

          A Abrelpe calcula que, se a PNRS for tirada do papel e começar a ser implementada, R$ 15 bilhões por ano seriam movimentados na economia brasileira. Ao mesmo tempo, o Estado deixaria aplicar em torno de R$ 3 bilhões com tratamentos de saúde às pessoas afetadas pela má-gestão de resíduos. 

          Caminho mais fácil 

          Em abril deste ano, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou o lançamento do Programa Lixão Zero. O programa regulamenta a incineração de resíduos como forma de atenuar os problemas gerados pela destinação incorreta dos resíduos sólidos no país. O objetivo é zerar o número de lixões a céu aberto ainda existentes no território nacional.

          “O problema é que essa tecnologia emite nanopartículas de oxinas e furanos, substâncias cancerígenas que entram pelo nosso sistema respiratório e têm uma série de impactos, inclusive nas mulheres gestantes” afirma Grimberg, que se diz preocupada com a adoção da medida.

          O lançamento do programa gerou protestos de ambientalistas e catadores de lixo. “Além de nos onerar – porque somos nós que pagamos o orçamento público municipal –, vai destruir materiais que poderiam voltar para a cadeia produtiva da compostagem e da reciclagem”, argumenta a especialista.



          Fonte: Brasil de Fato

            Bolsonaro está a serviço do grande capital, diz filha de Chico Mendes

            Representante do Conselho das Populações Extrativistas, Angela Maria Feitosa Mendes vivencia o fogo na Amazônia a partir do Acre. "Meu pai estaria muito triste, e organizaria um grande embate", afirma em entrevista à DW.


            Chico Mendes (na foto com esposa e filhos) foi assassinado em 1988, aos 44 anosChico Mendes (na foto com esposa e filhos) foi assassinado em 1988, aos 44 anos
            Há muito os incêndios na Amazônia deixaram de ser uma questão brasileira. Fumaça e fogo se alastram e ameaçam os países vizinhos, que oferecem ajuda para o combate às chamas. 

            Lideranças europeias cortam verbas ambientais e ameaçam cancelar o acordo Mercosul-União Europeia, em reação ao antiambientalismo e negacionismo da presidência de Jair Bolsonaro. Escaramuças diplomáticas até trocas de insultos se sucedem, e o assunto figura no topo da agenda da conferência de cúpula do G7 deste fim de semana (entre 24 a 26/8).

            Nesta quinta-feira (22), a partir Rio Branco, capital do Acre, Angela Maria Feitosa Mendes falou à DW sobre as queimadas no seu estado natal. Filha do seringueiro, sindicalista e ativista ambiental Chico Mendes, ela segue o trabalho do pai, assassinado em 1988 enquanto lutava pelos direitos dos povos da floresta.

            Para a representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas e do Comitê Chico Mendes, não há dúvida: apesar de as queimadas serem um problema sazonal e recorrente, "o desmatamento aumentou no Acre cerca de 300% em relação a 2018".

            E o papel da atual política nacional é inegável, para Angela Mendes, pois, além precarizar os órgãos ambientalistas, o presidente populista de direita "está a serviço do grande capital e, principalmente, do governo americano, nos submetendo, enquanto brasileiros e brasileiras, a uma série de constrangimentos".

            DW: Você está vendo a fumaça das queimadas agora, de sua casa em Rio Branco?

            Angela Maria Feitosa Mendes: Não só dá para ver, como dá para sentir a fumaça entrando nos teus pulmões. É uma lástima grande, e a gente fica muito triste. Onde quer que se esteja em Rio Branco ou no Estado do Acre, se percebe isso, se abre a janela e não se consegue enxergar o céu, de tanta fumaça.

            A situação aqui está gravíssima, é muita fumaça na cidade, e as pessoas estão com problemas respiratórios. É bem complicado aqui no Acre, como em toda a Amazônia.

            Onde há mais fogos atualmente?

            A queimada ocorre com maior intensidade na floresta. Mas os focos de queimada também estão muito presentes na cidade, onde tem uma matinha, onde tem terreno baldio. E nos lados da BR também estão intensos.

            Quem está ateando fogo?

            Quem bota fogo é o povo que cria gado, que quer abrir novas pastagens. Ou seja: eles preferem abrir mais floresta, queimar mais floresta, do que recuperar o que já existe de pasto degradado. Onde o fogo é mais intenso é nas fazendas, nas propriedades.

            E agora a gente está enfrentando mais um problema, pois tanto o governador quanto o nosso presidente [Jair Bolsonaro] estimulam isso, colocam discurso que agora pode desmatar, que o órgão ambiental fiscalizador não pode multar. E quem for multado não precisa pagar. Se é fato que todos os anos a gente passa por esse mesmo problema, por essa mesma situação caótica, este ano o desmatamento aumentou no Acre cerca de 300%, em relação ao ano passado.

            É bem complicado, porque a gente não tem a quem recorrer. E é aquela sensação de impunidade, que dá a esse pessoal o direito, que eles entendem, de desmatar e de queimar.

            Os bombeiros estão combatendo as queimadas?

            Combater, combate. Mas a gente não tem um número suficiente, porque os incêndios acontecem em todo o estado. Não tem como os bombeiros estarem em todos os lugares ao mesmo tempo.

            O presidente Bolsonaro tem culpado as ONGs pela situação. Foi uma surpresa para você?

            Eles sempre nos colocam nessa situação de inimigo: "É de esquerda, é petista, é ONG ambientalista." Tudo eles colocam no mesmo saco, e nos declararam inimigos do país. A gente percebe que, na verdade, o presidente está a serviço do grande capital e, principalmente, do governo americano, se submetendo – e nos submetendo enquanto brasileiros e brasileiras – a uma série de constrangimentos.

            Ele tem que culpar alguém, e culpa e criminaliza as ONGs e os movimentos socioambientais. Desde a campanha dele, a intenção, que ele dizia, é que ia combater mesmo e criminalizar os movimentos. Isso agora é parte dessa estratégia dele de enfraquecer a sociedade civil e os movimentos socioambientais.

            Na Europa já se fala de sanções contra o Brasil. O que acha disso?

            Isso seria uma estratégia. Porque a gente percebe que setores que estão ao lado dele, que sempre o apoiaram, o setor ruralista, agora já tem uma outra percepção de que todas essas atitudes dele, todo esse discurso, têm afastado e têm sido ruins para o mercado brasileiro. [Os setores] já se colocam contra essas loucuras que ele comete. Acho que é por aí, até que os próprios setores se sintam pressionados e nos ajudem também a combater esse estado de coisas. Tem que doer no bolso, como se diz por aqui.

            Outro caminho seria o povo brasileiro ir às ruas, tomar as ruas mesmo, se manifestar firmemente, duramente, contra isso, ocupar Brasília, organizar atos em defesa da Amazônia em vários estados do país.

            No campo, as pessoas sabem quem toca fogo. Mas não denunciam?

            Olha, muito pouco se faz. Crendo tanto nessa impunidade, as pessoas acabam também não denunciando. Porque sabem que não vai dar em nada. Infelizmente essa mentalidade ainda existe. O Ministério Público é um órgão que tem agido bastante, tem sido demandado, mas quando vai investigar, nunca acha nada.

            Ninguém consegue descobrir a origem do fogo. Há denúncias, só que tem que apurar, e nunca se acha de fato qual foi a origem desse fogo. Muitas vezes áreas de pequenos produtores são afetadas, e eles acabam perdendo sua produção. Mas registram um boletim de ocorrência e fica por isso mesmo.

            O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está agindo no campo?

            Muito precariamente. O presidente retirou e cortou recursos dos órgãos ambientais. Ele agiu com força nesse sentido. Cortou recursos, portanto cortou a possibilidade de o Ibama agir de forma mais efetiva. Tanto o Ibama quanto o [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] ICMBio são órgãos que estão precarizados, não têm funcionários, não têm recursos.

            O que seu pai faria nessa situação?

            Com certeza ele estaria muito triste, porque foi ele, com várias lideranças, que deram a vida para criar esse legado grande de território protegido. Não foi por isso que o Chico deu a vida, que Dorothy Stang deu a vida, que José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo deram a vida. Meu pai estaria muito triste, e com certeza estaria organizando um grande embate contra tudo isso, como eles fizeram na floresta para impedir o desmatamento. Mas ele sempre foi um cara do diálogo.

            Por muitos anos, o Brasil avançou na questão ambiental. Você esperava por esta situação atual?

            A gente achou que o que já se construiu agora estava garantido. E que a tendência era avançar nas conquistas. Mas não. A gente percebe que o que foi conquistado até agora a custo, inclusive da vida de muitas boas lideranças, não está nada garantido. A gente tem um presidente que passa por cima da Constituição, que passa por cima dos direitos adquiridos, e que não está nem aí para isso.



            Fonte: Deutsche Welle (DW)