Em mais uma jogada frívola de marketing barato, Jair Bolsonaro resolveu reassumir a Presidência mesmo estando internado, sem poder receber visitas. Nos corredores de Brasília o gesto foi encarado como uma declaração de fraqueza política do presidente, temeroso do protagonismo indesejado do vice-presidente Hamilton Mourão.
O Brasil vive uma situação inusitada; um presidente da República que está no exercício do cargo mas não pode receber pessoas nem falar com ninguém. Por puro apego ao cargo, Jair Bolsonaro decidiu reassumir a Presidência dois dias depois da cirurgia a que se submeteu na segunda-feira (28), porque tem medo de que seu vice, Hamilton Mourão, se saia melhor que ele à frente do governo; na prática, porém, o Brasil está sem comando.
O encontro previsto para hoje (31), em São Paulo, entre Bolsonaro e três ministros foi desmarcado, informou a assessoria do Palácio do Planalto. Bolsonaro, que está internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, recebeu ordens médicas para evitar falar devido à possibilidade de que gases entrem em sua cavidade abdominal, o que poderia provocar dores e dificuldade na cicatrização.
Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão havia informado que o presidente se encontraria com os ministros do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Mas Bolsonaro não recebeu autoridades, nem despachou. Segundo a agenda oficial divulgada à imprensa, hoje está previsto o início dos despachos às 13h30. O Hospital Albert Einstein também limitou a publicação de boletins médicos a um por dia, sempre no fim da tarde.
Medo do Mourão
Nos corredores de Brasília, comenta-se que a decisão de Bolsonaro em reassumir a Presidência mesmo estando hospitalizado é mais do que apenas uma jogada de marketing barato, é medo do protagonismo do vice.
O protagonismo midiático do general Mourão durante seus dois períodos como presidente interino incomodaram o entorno familiar e político de Jair Bolsonaro.
Um dos filhos do presidente disse a duas pessoas que o general busca se mostrar como uma figura mais preparada em caso de alguma crise desestabilizar o governo —avaliação, de resto, constante nos círculos políticos de Brasília.
Os filhos irritadiços no núcleo familiar afoito do governo Bolsonaro acham que o presidente tem de agir e enquadrar o vice o mais rápido possível. Segundo os 'primeiros-filhos' da República, Mourão anda "falando demais" - e essa é uma opinião do próprio presidente, segundo informa o jornal O Estado de S. Paulo. A ala da 'prudência' que habita o confuso governo do ex-capitão acha, no entanto, que isso só deve ser feito quando o presidente estiver recuperado de sua cirurgia.
Mas a retirada de cena do vice parece ser um desejo longe de ser concretizado. Enquanto Bolsonaro praticamente não fala com a imprensa internacional — em Davos, abriu parcas exceções — Hamilton Mourão não para de ser requisitado pelos maiores veículos do mundo.
Segundo o jornalista Lauro Jardim, nos próximos dias, por exemplo, o vice será entrevistado pela britânica "The Economist", pelo americano "The Wall Street Journal" e pelo espanhol "El País".
Fontes: Brasil 247 e agências
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