Ex-secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (2004-2015); ex-presidente da Eletrobras (2003-2004, governo Lula) e professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa alerta para “linha equivocada” de Bolsonaro sobre clima.
Em artigo intitulado “Advertência ao presidente eleito” no jornal Folha de S. Paulo, Luiz Pinguelli Rosa diz que indicação do futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, agradou ao agronegócio e deixou preocupadas as ONGs ambientalistas. Ele lembra a decisão do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que levou o governo Temer a cancelar a realização no Brasil da Conferência do Clima da ONU em 2019 (COP 25), foi objeto de críticas, durante a 24ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP24), realizada em dezembro, na Polônia.
Segundo Luiz Pinguelli Rosa, o Brasil vinha mantendo uma atitude pró-ativa nessa área desde a Rio 92, ganhando forte prestígio internacional. “O Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (FBMC), criado no governo Fernando Henrique, era presidido pelo próprio presidente da República. De algumas de suas reuniões participaram os presidentes Fernando Henrique, Lula e Dilma --mas jamais Temer. O FBMC teve influência importante na política climática brasileira, contando com a participação dos ministros do Meio Ambiente Marina Silva, Carlos Minc e Izabella Teixeira”, escreveu.
Ele recorda que como secretário-executivo do Fórum, participou de reuniões realizadas especialmente para a definição da posição do Brasil na Conferência do Clima de 2009, em Copenhague. “O então presidente Lula fez uma intervenção de grande impacto no evento, anunciando que o país assumiria o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa projetadas para 2020. O Brasil teve participação efetiva, mesmo quando o Anexo I da Convenção do Clima listava apenas os países desenvolvidos, pois tinham maior contribuição histórica para o aquecimento global da Terra. Mas agora todos os países devem realizar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC)”, descreveu.
Pelo Acordo de Paris de 2015, segundo Luiz Pinguelli Rosa, o Brasil se comprometeu a reduzir em 2025 suas emissões em 37% abaixo dos níveis de 2005, e em 47% em 2030. “Mas, seguindo a linha equivocada de Donald Trump, Bolsonaro declarou a intenção de retirar o Brasil do acordo, desconsiderando os sucessivos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Este reúne cientistas do mundo inteiro, os quais apontam a forte correlação entre o aumento da temperatura global e o aumento das emissões de gases que se acumulam na atmosfera, com destaque para o dióxido de carbono (CO2), produzido pela combustão principalmente do carvão, dos derivados do petróleo e do gás natural”, criticou.
De acordo com Luiz Pinguelli Rosa, é fato que as geleiras permanentes estão sendo reduzidas. No intuito de minimizar mudanças climáticas drásticas e suas graves consequências, estabeleceu-se em Paris um teto de 1,5ºC a 2ºC para o aumento da temperatura global. A principal fonte de emissões brasileiras era o desmatamento, que foi reduzido nos últimos dez anos até 2017, mas aumentou no último ano, afirmou.
Segundo ele, são preocupantes algumas declarações divulgadas pela mídia atribuídas ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, e a pessoas ligadas a ele. Entre elas, a que diz respeito à agenda modernizadora mundial do século 21. “Seu ministro de Relações Exteriores acusa a mudança do clima de ser uma conspiração esquerdista. Lembra uma acusação do tempo da ditadura militar de que os críticos ao acordo nuclear do Brasil com a Alemanha, entre os quais me incluía juntamente com José Goldemberg e Rogério Cezar de Cerqueira Leite, participavam de uma conspiração judaico-comunista”, concluiu.
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