Eleições ditas majoritárias —
sobretudo para cargos executivos: presidente, governador e prefeito — no
Brasil sempre carecem de um debate realmente esclarecedor.
Por Luciano Siqueira*
Por razões diversas, entre as quais a sobreposição de
artifícios midiáticos sobre ideias programáticas, o eleitor escolhe sem
conhecimento claro do que cada postulante efetivamente propõe.
No primeiro turno do pleito presidencial, o número exagerado de
candidatos e as regras restritivas dos debates organizados pelas redes
de TV expuseram apenas fragmentos dos programas. Sem nitidez.
Assim mesmo justo o candidato que passou ao segundo turno na dianteira esteve ausente.
Agora, apenas dois disputam e a expectativa óbvia é de um confronto de
ideias divergentes sobre questões cruciais que dizem respeito aos rumos
do Brasil. Olhos nos olhos e à vista de milhões.
Mas os médicos que atendem ao capitão Bolsonaro o interditam nesta
primeira semana, sob alegações clínicas; e não há nenhuma segurança de
que possam liberá-lo na semana vindoura.
Sem entrar no mérito clínico, apesar da desconfiança generalizada, o
País está sendo privado de um confronto de ideias indispensável, pela
voz dos dois contendores.
Mais grave ainda é que justamente o capitão reformado construiu sua trajetória via monólogo através das redes sociais.
Não discute, afirma. E seus seguidores simplesmente reproduzem e espalham.
Reprodução em escala e forma diferente, mas assemelhada, aos idos do
regime militar em que a escolha do mandatário se fazia circunscrita ao
Estado Maior das Forças Armadas.
Supõe-se que, submetido à arguição do adversário e de jornalistas, o
candidato do PSL poderia se ver em desvantagem, tamanha a
superficialidade de suas ideias, fragilidade dos seus fundamentos.
Ausente com a justificativa médica, o capitão escapa.
Assim, no instante mais importante da vida política da nação, corre-se o
risco de se finalizar disputa tão dramática de modo nada democrático.
Mais: sob a ameaça de triunfo de uma proposta que questiona as bases
democráticas da Constituição e, mesmo sem qualquer indicio, põe em
dúvida a lisura do sistema eletrônico do voto.
Dessa forma, apenas imposta, sem o crivo da polêmica democrática.
*Luciano Siqueira é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e vice-prefeito do Recife.
Fonte: Blog do autor
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