Na última sexta feira, à meia noite no hemisfério Ocidental, os Estados Unidos desencadearam a maior guerra comercial das últimas décadas, segundo o governo da República Popular da China. Tarifas alfandegárias taxaram em 25% produtos chineses no valor de US$ 34 bilhões, o que obrigou a China a retaliar no mesmo patamar em relação a 545 produtos estadunidenses um minuto após a ação promovida pelo Departamento de Comércio dos EUA.
Por Pedro Oliveira*
Na verdade, desde março deste ano o presidente Donald Trump vem -- reiteradamente através das redes sociais, e mesmo com medidas comerciais concretas -- impondo taxas extras aos produtos chineses e produtos provenientes da Europa Unida, além de outros países como o Canadá e México, algumas das quais com alegações ligadas à questões não apenas de segurança comercial mas de segurança nacional estadunidense. O que a Organização Mundial do Comércio procura fazer sempre é reconhecendo a liberdade das Nações escolherem qual deve ser o tratamento de suas próprias importações -- buscar um programa de liberalização multilateral de tarifas conclamando os Estados membros a se tratarem mutuamente como Nações Mais Favorecidas (NMF) e desta forma impondo as mesmas tarifas em importações idênticas de todos os membros. Baseados nesta orientação da OMC os dirigentes chineses anunciaram a retaliação imediata (um minuto depois) em relação às medidas tomadas pelo Governo Trump. Novas medidas de aumento de tarifas estão prometidas pelos EUA diante da justa retaliação chinesa: mais 16 bilhoes em mercadorias chinesas serão taxadas. Com esta atitude do governo americano, o que se pretende é tentar barrar o desenvolvimento tecnológico do China, que segundo os trumpistas é a grande ameaça a hegemonia dos EUA no momento.
O fato é que os EUA -- durante a última Guerra Mundial -- abandonou o isolacionismo e se tornaram a Potência hegemônica no plano internacional, liderando a partir de 1945 a construção de um sistema de acordos entre os países envolvendo praticamente todo o mundo, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) -- que realizou 7 Rodadas internacionais procurando arbitrar um consenso entre as Nações a respeito do comércio: a Rodada de Annecy em 1949; a Rodada de Torquay em 1951; a Rodada de Geneva de 1955 a 1956; a Rodada de Dillon de 1960 a 1962; a Rodada de Kennedy de 1962 a 1967; a Rodada de Tokyo de 1973 a 1979.e a Rodada do Uruguai, de 1986 a 1994. A partir de 1993 o GATT passou por uma processo de modernização em que 75 de seus membros mais os países da Comunidade Européia constituíram a Organização Mundial do Comércio em 1994, sendo que 52 dos antigos membros do GATT passaram a fazer parte da OMC nos dois anos que se seguiram. Agora todo esse sistema de resolução de controvérsias inaugurado pela OMC é atacado diretamente pelo Governo Trump, que ameaça inclusive a retirada dos Estados Unidos dessa Organização internacional. Trump também vem retirando os EUA de várias organizações internacionais como a UNESCO, a Comissão de Direitos Humanos da ONU. Houva também a saída estadunidense do Acordo Mundial sobre os problemas Climáticos assinado em Paris, retirou-se unilateralmente do acordo fechado com o Irã sobre a questão nuclear, que inclusive conta com a assinatura de França, Alemanha, Inglaterra, Russia e China, que permanecem no acordo.
O governo americano com Trump à frente nega as alianças multilaterais em troca de transações bilaterais, nega o multilateralismo em prol do bilateralismo, nega as regras estabelecidas no âmbito mundial em razão do poder econômico, o poder politico e militar. Além disso o presidente americano considera via twitter que "a União Européia foi criada para confrontar os EUA e tirar proveito dos Estados Unidos, Não mais...Esse tempo acabou!". Em relação à guerra comercial desencadeada contra a China Trump está confundindo deliberadamente comércio exterior com segurança nacional. Aliás, Trump ameaça retirar o apoio americano à OTAN, que nos próximos dias 11 e 12 de julho estará reunida. Logo em seguida,Trump se encontrará com Vladimir Putin em Helsinki. As relações diplomáticas dos EUA com seus aliados europeus estão cada dia mais difíceis.
*Pedro Oliveira é jornalista
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