Presidente tricolor faz análise do bom momento, revela pressão para saída de Ceni após Estadual e garante que atletas querem ficar no Pici
00:00 · 01.06.2018 / atualizado às 02:31 por Gustavo de Negreiros - Editor
Há um ano você estava aqui em momento totalmente diferente. Fortaleza estava fora da Copa do Nordeste e na Série C. Agora, é sensação da Série B. O que aconteceu para que se invertesse toda essa situação?
Eu lembro bem quando estive aqui no ano passado. Houve mudança administrativa. A chegada do Luís Eduardo Girão, que foi fundamental nesse processo, e todos os dirigentes que passaram antes e se esforçaram muito. O grande marco, sem dúvida, foi o acesso. Foi uma mudança de patamar do clube em vários aspectos. No emocional do torcedor, na satisfação e auto-estima. Questão financeira também. Entraram cotas de TV, entraram patrocínio da Caixa Econômica (Federal), o sócio-torcedor cresceu e uma série de fatores que a gente vem buscando conduzir com responsabilidade, com critério, com ousadia em alguns aspectos, porque é necessário ter, já que temos uma torcida enorme. Graças a Deus a gente está num patamar diferente hoje do que no ano passado, muito bem na Série B, uma liderança, clube organizado, salários em dia, tudo direitinho, mas temos que seguir com muito cuidado para que isso permaneça e até melhore. O Fortaleza tem potencial para crescer cada vez mais.
Vocês imaginavam que, neste ponto da competição, o time somasse 19 pontos?
Nem nos meus melhores sonhos eu imaginava que em sete jogos a gente teria 19 pontos. Tenho que ser muito sincero e transparente. Mas isso não é por acaso. Essas seis vitórias e o empate vieram com o time jogando bem, ganhou realmente com mérito. Isso é sequência de um trabalho que veio desde lá de trás, na montagem do elenco, da contratação do Rogério Ceni, do método de trabalho que ele implantou, da estrutura de suporte que a diretoria buscou dar a ele para que ele desenvolvesse o seu método de trabalho. No Cearense, fizemos um campeonato muito bom, fomos líderes o campeonato inteiro, mas realmente nas finais nós perdemos, e o Ceará ganhou por méritos da gente ao meu ver, normal reconhecer isso. Mas a gente não se abalou naquele momento por que sabíamos que o trabalho estava no caminho correto, fizemos alguns ajustes naturais, chegada de alguns jogadores, saída de outros.
No final do Campeonato Cearense, havia questionamento pela saída do Rogério Ceni, mas você o bancou. Isso foi fundamental?
Tenho certeza. Após a final do Estadual a pressão foi muito grande de boa parte da torcida por mudança de comando. O jogo foi domingo e na segunda eu fiz questão de ir a público para dizer que não ia ter mudança nenhuma. Não tinha porque mudar. O planejamento estava feito, trouxemos o Rogério para um ano de trabalho. Pelo menos um ano. Quem sabe mais tempo. Não tinha porque mudar o planejamento, a gente sabia que o dia a dia estava sendo muito positivo. Então era eu dando entrevista e ele dando treino logo depois. Na diretoria não houve esse questionamento, porque se trabalha com convicção, com foco, com planejamento e, sem dúvida alguma, a continuidade do trabalho fez com que os resultados viessem. Se houvesse uma mudança de comando certamente a gente não estaria com essa perfomance atual.
Vocês têm recebido muitas propostas pelos jogadores? Como têm reagido? Têm se precavido para não que não ocorra um desmanche?
Se isso está acontecendo em função do sucesso é algo bom. Eu não tenho medo do sucesso. Se o time está ganhando, está chamando atenção, que bom que está acontecendo isso! E o mercado está aí para fazer suas movimentações. A gente encara isso com naturalidade. Os jogadores que pertencem ao Fortaleza têm multa alta e só saem se pagarem a multa. Os que não pertencem ao Fortaleza, como é o caso do Gustavo, do Corinthians, do Dodô, que é do Atlético/MG, quem tiver intenção tem que procurar esses clubes. O que sei é que o nosso ambiente é bom. Esses jogadores não querem sair do Fortaleza. Eles estão felizes no clube, estão motivados e tem objetivo de fazer o melhor ano possível aqui. Porque está sendo bom para o Fortaleza, mas também está sendo bom também para eles, para a carreira deles. Estão tendo visibilidade, estão tendo sequência de jogos, estão tendo o carinho do torcedor. E tudo isso pesa. A gente encara com naturalidade e, logicamente, o que tiver ao nosso alcance para manter esses jogadores no elenco, a gente vai fazer o possível.
Como está o Fortaleza financeiramente? Questão de salário, premiações...
Esse time nunca entrou em campo com qualquer salário atrasado, qualquer direito de imagem, qualquer premiação atrasada, qualquer aluguel atrasado. Nenhum funcionário, nem ninguém. Mas isso com muito zelo, na ponta do lápis a gente controlando receitas e despesas, buscando novas receitas, controlando despesas para que isso seja possível. Não tem sido fácil, é uma transição muito grande. Fortaleza no ano passado só sobreviveu porque o Luís Eduardo (Girão) aportou um valor altíssimo para bancar o clube e, com o acesso, com a mudança, a gente tem feito uma gestão só com recursos do clube. Tem pequenas ajudas pontuais de alguns conselheiros e torcedores, que a gente agradece muito, mas não são aportes grandes, como Ribamar (Bezerra) já fez, como Luís Eduardo (Girão), como outras pessoas já fizeram. Esse é o grande legado que a gente quer deixar, da autosustentabilidade, do Fortaleza caminhar com as suas próprias pernas sem precisar sangrar o bolso de algum dirigente. E tem sido apertado, tem sido difícil.
O clube tem explorado a marca de maneira diferente com surgimento de produtos, fabricando a própria camisa. Isso tem trazido retorno?
O clube de futebol tem que diversificar suas fontes de renda. Temos um ativo muito grande que é a marca. Ela vale demais, e os torcedores amam o Fortaleza. O Marcelo Paz vai passar, o Rogério Ceni vai passar, o Gustagol vai passar, mas a marca do Fortaleza vai permanecer e as pessoas vão continuar amando. Através do sócio-torcedor, através da área comercial. A gente está com cinco lojas todas no controle do clube, e elas vendem bem. Acrescentaram um valor significativo na nossa renda. A gente tem licenciado a nossa marca para várias produtos, que vai de vinho, linha para pets, tábua de carne para churrasco, camisa, boné, sandália, sapato, blusa social. Tudo isso gera recurso para o clube. E a gente tem feito um trabalho para criar novas receitas, criar o chamado dinheiro novo, o mercado é imenso para isso, e a profissionalização do clube é o caminho, e o marketing que a gente tem investido muito.
O Everton, que foi revelado pelo Fortaleza, vive grande fase. Como clube tem observado uma possível venda dele para o exterior?
O Everton é um grande caráter, garoto espetacular, muita personalidade. Esteve aqui no último jogo contra o Ceará. Foi no Pici, pegou a camisa do Fortaleza, bateu foto, disse que torcia para o Fortaleza e que um dia queria voltar. Não é fácil alguém fazer isso no futebol de hoje. E a gente torce que ele faça cada vez mais gols e possa ser vendido porque o Fortaleza tem 10% do Everton. Quando for vendido, vai gerar receita para o clube. Esse percentual, todo mundo sabe, boa parte está condicionada aos aportes que o Luís Eduardo Girão fez. Isso foi aprovado pelo nosso conselho deliberativo. Uma operação legal e que o clube precisava daquelas receitas naquele momento. Não é só ele, tem outros pequenos investidores também. Mas se a venda for muito grande, ela vai pagar os investidores e ainda vai voltar alguma coisa para o Fortaleza. O próprio Luís Eduardo (Girão) disse que não quer um centavo a mais do que ele botou. Ele não quer lucro na operação.
Sobre Marcelo Paz, da sua parte pessoal, como você tem visto seu futuro no clube?
Eu amo o que estou fazendo. Estou muito feliz de estar na presidência do clube no ano do centenário, clube que eu gosto, que eu torço, que meu filho torce. E estou dedicado o tempo inteiro a isso. Eu me afastei da minha empresa, contratei um profissional. E estou dedicado ao Fortaleza o tempo todo. O meu vislumbre é o jogo a jogo. Quem vai julgar se eu mereço ficar ou não é a torcida. No final do ano vai ter uma eleição. E quem tiver apto a votar vai avaliar e se eu quiser ser candidato também. Porque ninguém sabe. O futebol tem uma variabilidade muito grande, às vezes muito rápido. E é uma pressão muito grande que os dirigentes sofrem, uma abnegação muito grande, mas eu estou feliz com o trabalho. Hoje está muito tranquilo. Luís Eduardo (Girão) fez um trabalho grande de pacificação. E a gente tem dado continuidade a isso. Cada um à sua forma. Conselho deliberativo tem nos apoiado bastante. Os ex-presidentes, pelo que tenho contato, estão satisfeitos com o trabalho. A gente não tem sofrido nenhum tipo de intervenção. Acho que a coisa está funcionando muito bem. Claro que, como a gente está ganhando, isso facilita, a gente tem plena consciência disso. Como a bola está entrando, facilita para todo mundo estar mais calmo e mais tranquilo. Mas eu vejo um Fortaleza politicamente mais maduro, mais equilibrado, as pessoas querendo, como um todo, o bem do clube. Sem vaidades individuais, eu vejo isso, não tenho nada do que reclamar, de verdade.
Fonte: diário do nordeste
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