No Centro Histórico, com 270 imóveis tombados pelo Iphan, o Museu Jaguaribano é um dos atrativos de Aracati, uma das cidades mais antigas do Ceará
00:00 · 30.06.2018 por Honório Barbosa - Colaborador
Aracati. Quem quer conhecer sobre aspectos da história cearense, fazer uma viagem aos séculos XVIII e XIX, aprender um pouco acerca dos ciclos econômicos do charque e do algodão, observar documentos e fotos que retratam e preservam a memória política, social e cultural da região do Vale do Jaguaribe tem a opção de visitar nesta cidade do Litoral Leste do Ceará, o Museu Jaguaribano, que reúne importante acervo.
Instalado no Centro Histórico, que dispõe de um casario de cerca de 270 imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2000, o Museu Jaguaribano é um dos atrativos de Aracati, que é uma das cidades mais antigas do Ceará e está distante 150Km da Capital.
Aracati é conhecida internacionalmente pelas praias, com destaque para a internacional Canoa Quebrada. Porém, o Centro Histórico da cidade abriga um rico patrimônio de ruas e monumentos arquitetônicos com 154 mil metros quadrados de área de tombamento rigoroso, que prevê que as construções devem ser preservadas.
Entre as edificações mais relevantes está o Sobrado do Barão de Aracati, onde funciona o Museu Jaguaribano. O prédio é uma antiga residência construída em estilo neoclássico. A fachada principal destaca-se pelo revestimento de azulejos portugueses estampilhados e a construção dispõe de três andares e um sótão. O imóvel é considerado uma das principais peças urbanas do patrimônio histórico e cultural da região jaguaribana.
Há 50 anos, em 1968, foi criado o Instituto do Museu Jaguaribano, uma sociedade civil, reconhecida de utilidade pública municipal e estadual, que mantém o acervo. O Sobrado do Barão de Aracati sempre foi sua sede. Após um período fechado e restaurado pelo Iphan, foi reaberto para visitação pública.
Atualmente, o acervo de peças expostas varia entre duas mil e três mil. A visitação mensal chega a ser de milhares de pessoas. Quem vai conhecer o Museu Jaguaribano são principalmente estudantes secundaristas e universitários de toda a região, incluindo visitantes do estado do Rio Grande do Norte e Paraíba, além de turistas. Rico em peças históricas, sacras e também com impressionante riqueza arquitetônica, a unidade é objeto de estudo de historiadores, pesquisadores, geógrafos e arquitetos.
Peças únicas
O prédio apresenta traços da arquitetura europeia e reúne materiais europeus e cearenses. Um exemplo são as carnaúbas usadas na estrutura. O Museu Jaguaribano dispõe, em cada espaço, de uma variedade de peças e apresenta detalhes que contam curiosas histórias.
Uma âncora gigante, que pertenceu a um navio a vapor naufragado em Fortim, hoje cidade vizinha de Aracati, bem como um canhão original da primeira fortificação da região, datado do início do século XVII, de fabricação espanhola, compõem o acervo. Os pisos de madeira ainda são originais e as paredes têm afrescos desenhados há três séculos. Durante o processo de restauro, observou-se que algumas paredes tinham recebido até 12 camadas de tinta, que foram removidas para a manutenção das cores originais.
Peças clássicas nordestinas do ciclo da cana-de-açúcar, da cachaça e algodão, do couro e do charque, que alavancaram a economia de Aracati em outras épocas, também podem ser observadas no Museu.
A segunda prensa (prelo) de jornais do Ceará também é uma peça de destaque. Fotos e documentos de aracatienses ilustres, como Jacques Klein, músico, pianista de fama internacional; o escritor Adolfo Caminha; e o herói abolicionista Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, estão expostos.
O setor de obras sacras reserva peças de valores inestimáveis, como um oratório com um Jesus crucificado esculpido em marfim de rinoceronte. Um ostensório em estilo barroco, mas em vez de talhado em ouro ou outros metais, como é padrão, é esculpido em madeira e pintado, exemplar único.
Uma peça rara, usada na iluminação da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, foi furtada e descoberta quase 40 anos depois, na cidade de Assis, no interior do Estado de São Paulo. O objeto faz parte do acervo do museu. Quem a encontrou era muito ligado à Igreja e, quando menino, tinha inclusive fotos com o objeto, que indicavam marcas únicas e assim o reconheceu. Decidiu ir à casa da pessoa que estava com o objeto e, após comprovar a origem pelas fotografias, houve a devolução da peça para Igreja de Aracati.
Lenda
Além de preservar a história de forma acadêmica, o prédio também é local de uma das lendas mais famosas da cidade. A lenda do "Beco do Museu". Segundo contam, o beco do prédio se fecharia nas madrugadas e pegaria pessoas desprevenidas à meia-noite.
Essa lenda recebeu um reforço devido aos prédios da esquina serem ligados por um trilho de ferrovia, sem que se saiba a sua função certamente. Para os entusiastas da lenda, os vergalhões foram instalados para evitar que os prédios se unissem. Conta-se também que um amante os usava como passagem para encontrar sua amada, que morava no outro imóvel, durante a noite. Muitos alimentam a lenda urbana e histórica.
O Museu Jaguaribano sempre recebe mostras de fotografias, documentos e peças diversas. Recentemente, houve uma programação de 90 dias sobre a vida do escritor Adolfo Caminha, que reuniu livros, notícias de jornais e outros escritos. A unidade dispõe de uma lojinha com obras de vários autores.
"Temos a praia de Canoa Quebrada, um atrativo de turismo internacional, mas o nosso esforço é fazer com que o visitante de Canoa Quebrada conheça o sítio histórico de Aracati, tenha interesse em incluí-lo no seu roteiro de viagem", observou a secretária de Cultura do Município, Denise Pontes. "São poucas as cidades que ofertam atrativos com Aracati - praia e sítio histórico", completou.
Saiba Mais
O Sobrado do Barão de Aracati foi Construído no século XIX, com quatro pavimentos. Era a residência do Barão de Aracati, José Pereira da Graça. A partir de 1889, após a morte do barão, no sobrado funcionaram colégio, clube e hotel.
A fachada principal é guarnecida por azulejos portugueses estampilhados e as paredes de seus salões são decoradas por pinturas. Estão preservadas estruturas de madeira e alvenaria, além de peças artesanais como a escada-caracol do primeiro pavimento.
A edificação é protegida pelo Tombo Estadual segundo a Lei N° 9.109/1968, por meio do Decreto N° 16.237/ 1983.
Mais informações:
Museu Jaguaribano
Rua Coronel Alexanzito, 743
Telefone: (88) 3421-3396
Funcionamento: De terça a sábado, das 8h às 11h30 / Entrada: R$ 5,00
Fonte: diário do nordeste
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