Esses eventos, reunindo Camilo e Eunício, são o início da "construção" do acordo, tornando-o aceitável pelos eleitores
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02.12.2017
por Edison Silva - Editor de Política
Antes de realmente ser uma ação administrativa, o evento de ontem no
Município de Limoeiro do Norte, no fundo, constituiu-se no primeiro
comício, fora de época, da campanha de candidatos a cargos majoritários
no Ceará. O Estado, realmente, precisa de mais equipamentos e melhor
estrutura de Saúde para minimizar o sofrimento de sua população,
notadamente a mais carente, mas, mesmo com a garantia da contratação de
empréstimos para construções de hospitais, não tem o erário a garantia
de recursos próprios para aumentar o custeio fixo da máquina.
O Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, nos moldes do projetado,
custará anualmente, na plenitude do seu funcionamento, não se sabe
quando, ao menos R$ 150 milhões a preço de hoje, valores superiores à
sua edificação, estimada em aproximadamente R$ 120 milhões.
O Estado ainda não foi capaz de ofertar os serviços programados para o
Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, inaugurado em
2014, no fim da gestão do ex-governador Cid Gomes, portanto há exatos
três anos. Hoje, o Hospital de Quixeramobim está atendendo apenas com
33% da sua capacidade, custando mensalmente próximo de R$ 3 milhões.
Falta dinheiro para mantê-lo como projetado.
Custeio
Hoje, segundo dados oficiais, ao contrário da década passada, dois
terços de todos os recursos para a Saúde saem do erário estadual,
ficando a União com apenas um terço. Houve uma inversão nas competências
desses gastos. O próprio Estado, nos últimos três anos, reduziu um
pouco o seu percentual no custeio da Saúde, caindo de 16% da sua Receita
Corrente para 13% atualmente, equivalente a aproximadamente R$ 3
bilhões, segundo dados colhidos pelo presidente da Comissão de Saúde da
Assembleia Legislativa, o deputado Carlos Felipe, aliado do governador.
Os três maiores hospitais geridos pelo Executivo estadual, através do
ISGH (Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar), Hospital Geral de
Fortaleza, Hospital Regional do Norte, em Sobral, e o Hospital Regional
do Cariri, em Juazeiro do Norte, têm despesas de manutenção anual perto
dos R$ 700 milhões.
O ISGH também gerencia outros equipamentos do Estado, inclusive as
Unidades de Pronto Atendimento, também absorvedores de volumes
expressivos de recursos. Sem quadros técnicos próprios, notadamente os
do Interior, são substanciais as despesas com pagamentos de serviços
médicos através de Cooperativas, motivando até o questionamento, hoje,
se vale apena, realmente, ter pessoal terceirizado ganhando muito além
dos salários reais do Estado.
A Região do Jaguaribe carece desse empreendimento, como as demais
regiões reclamavam os hospitais já construídos, mesmo que talvez só nas
proximidades da campanha de 2022 o Hospital de Limoeiro esteja gerando
os frutos daquilo que ontem prometeram à população, enquanto a Região
Metropolitana de Fortaleza continua aguardando o Hospital Regional que
seria construído, no sistema de Parceria Público Privada, no Município
de Maracanaú, para desafogar a rede pública da Capital, inclusive na
especialidade da traumatologia.
Amaciamento
A ordem de serviço dada, ontem, para o Consórcio Marquise/Normatel
iniciar a construção do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe marca o
início da série de eventos políticos envolvendo o governador Camilo
Santana e o senador Eunício Oliveira (hoje estarão novamente juntos no
Cariri), até recentemente adversários, posto estarem rompidos desde
2014, quando disputaram o mesmo cargo de governador do Ceará.
Estão fazendo a chamada "construção" da aliança política, o trabalho de
amaciamento do eleitorado para aceitar a aliança, já acertada entre os
dois, abençoada pelos primeiros apoiadores de Camilo, que reclamam a tal
"construção", para evitarem maior volume de reações adversas quando
tiverem a necessidade de a tornarem pública oficialmente.
Camilo nada precisa dizer quanto à inclusão de Eunício Oliveira em sua
chapa majoritária. Se não bastassem as informações circulantes sobre os
encontros de ambos em Brasília, com o prefeito Roberto Cláudio ao lado,
os dois últimos eventos públicos oficiais com a participação de ambos
calam petistas e pedetistas ainda sonhadores de um lugar de candidato ao
Senado no esquema governista. O ex-governador Cid Gomes não só tem a
outra vaga de candidato ao Senado, como já declarou ser o governador
Camilo Santana o condutor das alianças para a sua disputa por um segundo
mandato.
O périplo dos dois pelo Interior cearense, sob o argumento de estarem
trabalhando juntos para melhorarem a condição de vida dos coestaduanos,
reduz o espaço de atuação dos oposicionistas, incapazes, até o momento,
de organizarem uma frente para melhores condições adquirirem no momento
de enfrentar a chapa governista.
A oposição só contava com Eunício Oliveira, lamentavelmente. Agora está
órfã, embora isso não signifique dizer que está incapacitada de reunir
forças para reagir, aproveitando-se do desejo de expressivo segmento do
eleitorado sempre disposto a votar contra os governantes de plantão. Com
o governador em plena campanha, a oposição está deveras atrasada,
chegando no início do ano da eleição sem acordo quanto aos seus nomes
para enfrentar os governistas já em plena campanha.
Fonte: Diário do Nordeste
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