Diferentemente da AL, onde deputados já até calculam votos, bancada federal pouco tem dialogado sobre o pleito
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02.12.2017
por William Santos - Editor assistente
Enquanto na Assembleia Legislativa do Ceará deputados já vivem
expectativa de eleição, fazendo entre si contagens de votos para
eventual reeleição e projeções de novos nomes que devem ocupar vagas na
Casa a partir de 2019, na Câmara dos Deputados, em Brasília, a bancada
federal cearense ainda não trata abertamente da disputa eleitoral do ano
que vem. Alguns parlamentares até já anunciam pré-candidaturas à
reeleição e buscam intensificar presença nas bases eleitorais do Estado
na tentativa de garantir votos. Diante de indefinições quanto à formação
de coligações e, ainda, de mudanças nas regras eleitorais que valerão
pela primeira vez em uma eleição geral, porém, poucos arriscam palpites
sobre quantas das 22 cadeiras reservadas ao Ceará na Casa serão ocupadas
por deputados novatos em 2019, tampouco sobre a garantia de permanência
no cargo por mais quatro anos.
Até agora, a situação é diferente do que se vê na Assembleia, onde
parlamentares têm feito circular listas de nomes que, segundo eles,
devem ser reeleitos em 2018 e também daqueles que, mesmo fora da atual
legislatura, já são tidos como mandatos certos no Legislativo após o
pleito que, pelo calendário eleitoral, ainda nem começou.
Matéria publicada pelo Diário do Nordeste no dia 9 de setembro aponta
que políticos experientes no Legislativo Estadual calculam uma renovação
de até pouco mais de 60% na Casa, embora alguns nomes tidos como
futuros deputados sejam velhos atores da política cearense, a exemplo do
vice-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR), e do ex-senador Luiz
Pontes (PSDB), além de secretários estaduais e municipais e familiares
de nomes já estabelecidos na política, que pretendem perpetuar a
presença de suas famílias ou grupos políticos na Assembleia.
Outras prioridades
Entre deputados federais entrevistados pelo Diário do Nordeste,
contudo, o discurso majoritário é de que, até o momento, pouco tem se
falado de eleição na bancada cearense. O coordenador do grupo, Cabo
Sabino (PR), por exemplo, fez questão de distribuir nota à imprensa,
recentemente, negando eventual candidatura ao cargo de deputado estadual
e reafirmando a intenção de buscar reeleição a uma vaga na Câmara, mas,
segundo ele, a bancada cearense "ainda não fala de sucessão", tampouco
da campanha eleitoral de 2018.
"O foco da bancada é no sentido de buscar aporte financeiro para o
Estado, é nessa busca de fazer que seja concluída a Transposição do Rio
São Francisco, para que em janeiro possa estar chegando água nos
municípios do Estado do Ceará", aponta. Tal aporte financeiro, garante o
deputado, tem sido buscado a partir de um esforço conjunto para que
sejam pagas, pelo governo federal, as emendas impositivas da bancada
referentes a 2016.
Segundo Cabo Sabino, ainda é cedo para qualquer projeção sobre as os
percentuais de reeleição e renovação nas 22 vagas da bancada do Estado,
já que, na política, tudo pode mudar "em uma tarde, em uma noite".
"Fazer qualquer analogia um ano antes de um pleito eleitoral é fugir da
realidade. Quando você faz uma analogia no âmbito majoritário é mais
fácil, com três, quatro, cinco candidatos, no máximo, mas falar de 22
(na Câmara), de 46 (na Assembleia) ainda é muito precoce", considera.
No partido
André Figueiredo (PDT) é outro a afirmar que não tem se deparado com
discussões eleitorais entre parlamentares da bancada, mas pondera que já
dialoga sobre o pleito de 2018 com outros pedetistas cearenses na Casa,
como Leônidas Cristino, Vicente Arruda e Ariosto Holanda. Segundo
Figueiredo, a expectativa da bancada, em alinhamento com o ex-governador
Cid Gomes, é de eleger seis deputados federais do partido no Ceará no
ano que vem.
Cotado em encontros regionais do PDT como possível candidato ao Senado,
o deputado explica que, com a pré-candidatura já colocada de Cid Gomes,
"o que está sendo discutido é a questão do PDT indicar duas vagas ao
Senado, pelo tamanho que o PDT hoje tem no Estado". Ele ressalta,
contudo, que esta não é uma "obsessão" interna, já que a prioridade da
legenda é a eleição de uma bancada forte na Câmara e no Senado, além da
reeleição de Camilo Santana (PT) ao Governo do Estado e de Ciro Gomes à
Presidência da República. Se confirmada a aliança que já é apontada como
certa por muitos políticos, entre Camilo e o senador Eunício Oliveira
(PMDB), a segunda vaga de postulante ao Senado, aliás, seria do
peemedebista.
Tal arranjo, por outro lado, não agrada a petistas. A deputada federal
Luizianne Lins (PT), em entrevista no lançamento da 5ª Assembleia
Nacional da Consulta Popular, no último dia 13 de novembro, não
confirmou candidatura à reeleição, mas ressaltou que a disputa pela
manutenção da cadeira que tem na Câmara é uma das possibilidades que vê
no partido ao mirar o pleito, em um cenário no qual, conforme disse, "a
gente não pode descartar nada". Além dessa, ela diz que, se Camilo
apoiar Ciro Gomes - e não Lula - para presidente, tentará disputar
prévias internas com o governador para que o partido decida quem será o
candidato majoritário petista, garantindo palanque forte ao
ex-presidente no Ceará.
Após ter sido nomeada pelo presidente estadual do PT, Francisco de
Assis Diniz, como um dos nomes da legenda que poderiam disputar a vaga
no Senado que hoje é da legenda, a deputada defende que deve ser do
senador José Pimentel a prioridade para a disputa, mas, caso ele decline
da candidatura, Luizianne também se coloca como opção.
Possibilidades
"O Camilo deve ser candidato à reeleição, mas o PT não quer abrir mão
da vaga do Senado que já tem. Eu sou, hoje, da executiva nacional. Há
uma orientação da executiva nacional do partido de que, onde o PT tenha
vaga no Senado, a gente lute para manter essa vaga. Então o que vai
acontecer depois disso tudo é para a gente avaliar, mas por enquanto
estamos num processo de construção. Agora, qualquer coisa, eu posso
estar antecipando uma conjuntura que nem vai se viabilizar", declarou.
Se uns ainda não adotam tom de certeza ao tratar de movimentações
eleitorais, outros já trabalham junto às bases no Estado a consolidação
das candidaturas. É o caso do deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB),
que acumula seis mandatos consecutivos na Câmara desde a legislatura
iniciada em 1995. Ele acredita que a eleição de 2018 promoverá
considerável renovação na bancada, mas, como veterano, aposta na
proximidade com o eleitorado para ser reeleito.
"Em todas as legislaturas sempre há renovações, tanto é que, na última
eleição, foi cerca de 40% da bancada renovada. Acho que essa média deve
permanecer, mas depende muito, também, da atuação dos atuais
parlamentares nas suas regiões, nas suas bases. Eu sou detentor já de
alguns mandatos e isso pesa muito, a presença do parlamentar com a
comunidade, com as lideranças, com os projetos da cidade, do Estado e da
União. Essa agenda daqui (de Brasília), casada com a agenda estadual, é
que viabiliza você ter certa preferência. Não é que garante a
reeleição, mas faz você ter uma preferência no processo eleitoral",
argumenta. Ele também cita que mudanças na campanha, como a redução do
tempo - serão 45 dias - e novas regras de financiamento, também
dificultam projeções sobre qual deve ser o percentual de reeleitos pelo
Ceará.
Embora admita movimentações em suas bases eleitorais, Raimundo Gomes de
Matos observa, contudo, que tem visto mais preocupações no cenário de
pré-candidaturas ao Governo do Estado e ao Senado, que devem ditar as
composições das chapas proporcionais. "Não verifiquei ainda na bancada
uma movimentação das pré-candidaturas dos atuais deputados, até porque
todos estão aguardando as questões de composições partidárias, já que
foram oficializadas as coligações. Se não tivesse que participar de
coligação, o quadro já estaria definido. Entretanto, acredito que um
percentual bastante significativo dos parlamentares está trabalhando
nesse sentido, de fazer as coligações no sentido de buscar a reeleição",
aponta.
Domingos Neto (PSD), por sua vez, diz que, ao considerar "um número
elevado de deputados que não são candidatos", seja por terem sido
eleitos para outros cargos em 2016 ou por não ambicionarem permanência
na Câmara, já crê em "um número razoável de novas vagas" para 2019.
Assim como Raimundo Gomes de Matos, porém, ele salienta que tem tentado
"ajudar as bases" com a intenção de tentar reeleição. Isso só não
aconteceria, de acordo com o deputado do PSD, se, eventualmente, for
considerado para a composição da chapa majoritária da oposição na
disputa pelo Governo do Estado.
Ao traçar perspectivas diante de mudanças na legislação eleitoral,
Domingos Neto sustenta, ainda, que alterações nas regras de
financiamento diminuirão as "campanhas milionárias" e poderão contribuir
para uma "fiscalização mais rígida", embora influências do "ambiente
nacional" dificultem outras previsões sobre o pleito de 2018. "A própria
eleição para presidente da República ninguém sabe como vai ser",
coloca.
Fonte: Diário do Nordeste
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