O espetáculo "Iracema dos lábios de mel: o musical" estreia quinta (5), às 19h, no Theatro José de Alencar
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04.10.2017
por Iracema Sales - Repórter
Paixão e emoção constituem os principais elementos do espetáculo
"Iracema dos lábios de mel: o musical", que estreia em grande estilo
amanhã (5), às 19h, no palco principal do Theatro José de Alencar (TJA).
"Iracema é a minha paixão", confessa num misto de entusiasmo e carinho
Ilclemar Nunes, dramaturgo e professor de teatro responsável pela
adaptação e direção da obra.
Em cena, os 23 atores-cantores interpretarão canções compostas por
Ubirajara Cabral, e devem emocionar o público com sua performance,
assegura o diretor do espetáculo, que poderá ser visto até domingo (8).
A ideia para a concepção do musical, baseado na história de amor entre a
índia tabajara Iracema, fruto da imaginação do escritor cearense, José
de Alencar (1829-1877), e o colonizador português, Martim Soares Moreno,
começou em 1990.
O projeto, que é incentivado pelo VIII Edital Mecenas, foi retomado
agora, ficando concluído em menos de dois meses, com orçamento reduzido
de R$ 800 mil para R$ 300mil. "Mas conseguimos fazer", comemora Ilclemar
Nunes, que adota como filosofia de vida o trecho final do livro de
Iracema, que diz: "tudo passa sobre a terra".
É essa mistura de emoção e espiritualidade que ele pretende levar para o
teatro. Pela licença poética do dramaturgo, até José de Alencar estará
em cena (no início e no fim da apresentação). O objetivo é transportar o
público para a atmosfera romântica que permeia toda a história
decantada em prosa e versos ao longos dos anos.
Aventura
Após a rápida temporada de lançamento, o musical retornará ao Theatro
José de Alencar no próximo ano. Daqui, partirá em turnê nacional com
apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, podendo ainda
cruzar o Atlântico. O desembarque será em Portugal com o apoio da Câmara
de Comércio Brasil/Portugal.
"A aventura de Iracema começou nos anos 1990 quando o governador Tasso
Jereissati completou quatro anos. Ligaram para mim, no Rio, para criar
uma obra. Adaptei Iracema, minha grande paixão", lembra, justificando
que, naquela época, não havia como viabilizar a produção local.
"Agora temos", completa o diretor, elogiando o nível de
profissionalização das artes cênicas cearenses. "O teatro cearense está
em plena atividade", arremata.
O espetáculo tem como mote a obra "Iracema: lenda do Ceará", escrita em
1865 por um dos primeiros a autores românticos brasileiros, José de
Alencar. Sua obra, considerada como "poema em prosa" por alguns críticos
- Alfredo Bosi é um deles - serviu de inspiração para dois filmes,
esculturas, músicas e pinturas.
"Só faltava ser apresentada no teatro, e, em grande estilo", festeja
Ilclemar Nunes, que aproveita para destacar a qualidade dos artistas
locais. "Fiz testes e audições", comenta, explicando que o gênero
musical exige que o ator cante e dance.
Desafios
Assim, escolheu os 23 nomes, entre jovens e veteranos. Alguns farão sua
estreia, mostrando que gostam de desafios e de apostar na mistura de
gerações.
O autor dispôs de pouco tempo para ensaios. Afirma que, em uma peça
comum, os atores precisam de dois a quatro meses. O musical ficou
concluído em menos de dois. Ilclemar Nunes, que tem experiência também
com a linguagem televisiva - ele foi um dos autores da primeira versão
do Sítio do Picapau Amarelo, da Rede Globo -, precisou realizar uma
adaptação da obra de Alencar.
"Tive que criar todo um suporte", diz, já que não tinha como deixar em cena apenas a índia tabajara e o seu "guerreiro branco".
Entretanto, foi fiel ao desenrolara da história. Dessa maneira,
reproduz o universos da aldeia, assim como as guerras entre as tribos.
"Trago tudo isso do livro para o teatro", assegura.
Um desejo do Ilclemar é apresentar o espetáculo no município de
Iracema, a fim de que os moradores conheçam a história da personagem que
dá nome à cidade, localizada no Vale do Jaguaribe.
Contexto
Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
pós-graduado em Artes Cênicas, na mesma instituição, o teatrólogo fala
com propriedade sobre o assunto, localizando a obra no contexto de tempo
histórico.
Ele explica que a história foi escrita "no auge do romantismo",
movimento artístico-literário que nasce no fim dos século XVIII, e tem
apogeu no fim do século XIX.
"Iracema nasce nesse período", pontua. O movimento marca também a
criação do sentimento de nação, ou seja, valorização do País e das suas
belezas naturais. As florestas e os índios são importantes ingredientes
do romantismo.
Daí o escritor cearense, natural de Messejana, tentar reproduzir o
choque cultural entre as civilizações europeia e americana, o novo
continente, usando a metáfora de Iracema (alguns autores defendem que se
trata do anagrama da palavra América) e o colonizador português Martim
Soares Moreno.
O musical enfocará todos esses elementos e emocionará também, garante o
diretor, que foi buscar no sentimento a inspiração para compor o
musical, de maneira a colocá-lo em consonância com o tempo atual. Por
isso, apresentará uma Iracema menos passiva ou subserviente do que a
descrita pela pena de Alencar. "Pedi licença ao Zé", brinca, para
apresentar sua protagonista em versão empoderada.
A descrição frágil da indígena - ela morre de amor ao ser abandonada
por Martim, que tinha uma noiva em Portugal - é também atribuída aos
cânones românticos. O diretor afirma que não estará sozinha no musical.
Criou uma ala das virgens para ajudar na composição da releitura da
criação de Alencar. O fruto do amor entre Iracema e Martim Soares foi
Moacir, "o filho do sofrimento".
Mais informações:
Estreia de "Iracema dos lábios de mel: o musical". Nesta quinta (5), às
19h, no Theatro José de Alencar (Praça José de Alencar, s/n, Centro). A
temporada prossegue até domingo (8). Ingressos: R$ 30 (inteira).
Contato: (85) 3101.2566.
Fonte: Diário do Nordeste
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