No Brasil e vários outros países trabalhadores e trabalhadoras de entrega por aplicativos exigem nossa atenção
Publicado 30/06/2020 06:49 | Editado 29/06/2020 18:50
Ao descrever o processo que envolveu a Revolução Industrial, Eric Hobsbawn afirmou que as mais sérias consequências que dela se deram foram as sociais. A nova economia criou a miséria e o descontentamento. As condições a que trabalhadores e trabalhadoras foram submetidos são conhecidas e passavam por jornadas desumanas e condições precárias de segurança. Não há quem leia sobre o tema e não se revolte.
Mais de duzentos anos depois, somos chamados a nos revoltar não pelo que lemos, mas pelo que presenciamos. No Brasil e vários outros países trabalhadores e trabalhadoras de entrega por aplicativos exigem nossa atenção. No dia 1° de julho farão uma paralisação e nos convocam a participar de uma forma simples: não peçam nada pelos aplicativos nesta data. A luta é por condições mínimas de trabalho, já que direitos não têm nenhum e a justiça lhes nega o vínculo trabalhista com essas operadoras de aplicativos.
Em época de pandemia os serviços de entrega tiveram um aumento expressivo. Quem pode seguir as recomendações de isolamento social recorre a eles para que produtos, medicamentos e alimentos cheguem às suas casas sem que tenham que se expor ao risco da contaminação na rua. Um serviço, sem dúvida, essencial.
Mas, apesar do aumento, esses trabalhadores não viram sua renda aumentar. São dois os motivos: a avalanche de novos trabalhadores que ingressaram neste ramo e a ausência de qualquer garantia mínima para o valor por entrega.
Para eles não há descanso remunerado, adicional noturno, auxílio para assistência técnica ou manutenção aos veículos, seguro de vida ou acidente. Notem que o movimento não se dá em função de direitos trabalhistas, muitos perdidos para o conjunto dos trabalhadores após a reforma, mas pela dignidade no exercício da função. Acesso à álcool gel, máscaras e até um local para fazer uma refeição e usar o banheiro durante a jornada.
Qualquer semelhança com a situação de homens e mulheres do século XVIII não é mera coincidência. É simplesmente a realidade de um sistema que, ao buscar o lucro máximo, explora cada vez mais quem depende do trabalho para sobreviver.
Estamos falando de quase 4 milhões de pessoas que têm nestes aplicativos sua principal fonte de renda, de acordo com pesquisa realizada pelo IBGE no mês de abril. Estamos falando de jornadas que chegam a 15 horas diárias. Estamos falando de condições desumanas de remuneração e segurança. O grito desses trabalhadores e trabalhadoras deve ser nosso grito. Vamos parar com eles no dia 1° de julho. Um dia para que sejam valorizados. Para que alguém os ouça e faça valer sua luta por condições dignas de trabalho.
Vamos mostrar que nos importamos e que eles importam.
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